quinta-feira, 26 de abril de 2007

Vagner de Almeida, Borboletas e Basta Um Dia


ENTREVISTA COM DIRETOR VAGNER DE ALMEIDA

FILME:
BORBOLETAS DA VIDA

Entrevista por: Marccelus Portal
WWW.PORTAL.MARCCELUS.COM


M: Vagner você é parte dos brasileiros premiados e reconhecidos fora do país. O nosso país é ingrato para com os seus talentos? Como você vê o incentivo ao cinema dentro e fora do Brasil?

V: Ser premiado, reconhecido e ver o seu trabalho contribuindo de alguma forma para melhorar globalmente esse sistema tão cheio de pequinezes é uma honra. Um averdadeira glória…
O nossoo país é ingrato com uma série de coisas, basta abrirmos as janelas de nossas casa ou colocar o pé nas ruas, que veremos a ingratidão e a perversidade de nossa sociedade com os seus cidadãos comuns. Somos um país muito descuidado com a solidariedade. Somo empregnados em dar esmolas, mas cuspimos nos que nos estendem as mãos para as esmolas que damos.
Qto ao que faço ou me proponho socialmente a realizar tenho conseguido muitas coisa, mas com muito esforço. Como não faço documentarios para me auto-promover, mas sim denúnciar uma série de impunidades, as quais perduram por anos em nossa sociedade egoísta. Neste ponto de vista eu me sinto excluído de uma série de possibilidades comerciais. Mas um dia eu chego lá…
Os incentivos estão ai, mas muito centralizados, sempre nas mãos dos mesmos, sempre abocanhado pela mafia cinematográfica, pelo famosos e ilustres. Isto é no exterior; é aqui no Brasil e não há como transpor essas paredes criadas pelo monópolio dos sempre patrocinados. Isto não quer desmerecer que o cinema brasileiro deu um avanço formidável em qualidade, tanto técnico como comercial. Mas ainda não conseguimos superar ou nos igualar a países como a Índia que produz mais de 800 filmes por ano, isto significando que eles produzem mais de 2 filmes e por dia.

M: Na sua categoria de expressão cinematográfica – na parte de documentários - existem oportunidades de maior divulgação no exterior?

V: As pessoas têm uma idéía muito errada do exterior como sendo o eixo do mundo ou um paraíso. Tudo do exterior é melhor para a maioria das pessoas. Não importa que você pronúncie o nome da Bósnia ou de Serra Leão como sendo os piores lugares do mundo, ainda vamos escutar que lá é melhor do que o Brasil. As pessoas no nosso país têm essa idéia de um arco-iris estranjeiro, todos lugares que você imigrar sera um Colorado. Tudo é muito relativo, pois foi no exterior que recebi o meu primeiro prêmio internacional, mas também tenho me organizado no Brasil para que o meu trabalho seja reconhecido ai.
No exterior eu me deparo tanto con feras imensas como com mínimas. Tudo é uma competição, um estende chapéu, um puxa saquismos, um tira tapete dos pés dos outros. O que eu faço é tentar me apartar dessa passarela de vaidades e divulger os meus documentarios como um protesto, um alerta, um grito sobre todas as tragédias e impunidades que imperam no Brasil, aqui embaixo do Equador, país que não tem pecado e que Deus é brasileiro… Meus filmes sempre saiem bem nos festivais tanto ai no Brasil como no exterior. Isto me faz muito feliz. Para um filme que não é comercializado como “Borboletas da Vida”. Este foi um exemplo de sucesso para nós com centenas de apresentações, críticas de altíssimas qualidades e um público misto formidável… Todas as apresentações aonde tive a oportunidade de estar houve debates e tópicos relevantes, enriquecedores, os quais foram pontuados em cada apresentação.
A última apresentação das Borboletas no MIX BRASIL no Rio de Janeiro fomos aplaudidos de pé… em Nova Iorque fomos aplaudidos de pé dai para frente o filme criou pé e saiu andando sozinho. Amigos dizem que as Borboletas não criaram asas, mas sim pernas… eu acho isto ótimo.
Isto foi um presente que o exterior me deu, pois apóis o meu filme ser preminado no New York Brazilian Film Festival ele surge na mídia, ficou carimbado na internet e vários sites importantíssimos… uma vitória... mas nada disso nào teria aocntecido se eu nào tivesse ao meu lado o time que tenho no Brasil, o apoio que recebo e todas as glories, os louros eu dividos com os meus técnicos, entidades e pessoas que direta ou indiretamente estiveram lá no pecurso da criação de todo processo do filme.
Só no Google há mais de 360 referências sobre o meu filme e isto é o máximo para um peixe pequeno como eu dentro desse mar de tubarões, isto é divino.


M: Fala um pouco da tua formação acadêmica, como nasceu a tua vontade de filmar e porque esse especial interesse num documentário realista e quase denúncia?

V: Começo em Estudos Sociais na UCP – Petrópolis e fujo para teatro, fundando um grupo nos anos 70 de protesto e consequemente levando muita porrada de policia, preso com o grupo, tendo teatro invadido e fechado… enfim um longa história como de tantos outros brasileiros que viveram os anos de ferro da nossa estimada patria mãe gentil. Do teatro para filmes não foi uma passagem em degradê, pois sabemos que filme sempre foi uma coisa cara e de alcance quase útopico para muitos de nós. Mas começando a trabalhar na ABIA com o Projeto HSH, recém chegado da Universidade de Berkeley na California, estudado análise de imagens para filmes, amando fotografia e sempre escrevendo scripts para teatro, não estava muito longe de ganhar uma camera VHS do meu parceiro e começar a filmar os amigos e suas verdades e mentiras. Como tudo na minha vida é um processo de construção o cinema também tem sido o mesmo. Não acredito no imediatismo, no tem que ser quero agora, algo muito típico dos brasileiros, mesmo antes do mundo ficar tão globalizado, já eramos imediatistas mesmo antes dessa mundança global, com fax, computadores, internet e celulares…
Sempre trabalhei com denúncias. O meu segmento no teatro sempre foi o Teatro Expressionista, nos meus documentaries não fujo muito dessa realidade que construi para as minhas obras. Há a necessidade constante de denúnciar ou nos perdemos dentro de nossas próprias vidas.


M: Você acredita no poder transformador da arte?

V: Certamente! Sem a arte o mundo não existiria. Através dessa benção que é a arte o mundo estaria muito pior… estariamos muito acelerados para as coisas ruins… Atráves da artes cinematográfica eu posso filmar, editar, montar o meu mosaíco de fotos e tomadas de cenas e criar uma arte e dali divulga-la no mundo, ajudar as pessoas a repensarem sobre outras vidas de pessoas sem privilegios, sem amanhã… a arte me conduz, me ilumina, me transforma de forma extremamenete positive e certamente transforma a vida do mundo para melhor.

M: Cultura e qualidade de vida caminham juntas?

Deveriam, pois a cultura nasce para todos, mas nem sempre a cultura é um fator transformador de qualidade de vida. Nem todos em nosso país e em muitas partes do mundo tem acesso a cultura, não sabem ler ou escrever, não conseguem colocar pão na mesa... Muitos intelectuais acham a arte da fome uma arte. Infelizmente essas duas artes de vida não são paralelas, mas deveriam. Observo atentamente a populaçào que trabalho na Baixada Fluminense e vejo que aonde há pobreza a qualidade de vida nào acompanha as diversidades da cultura.

M: Atrás de um grande homem, outro monumental.

V: “Eu diria paralelo a um grande homem, há sempre um outro grande ser!” - Mas a vida é cruel e nem sempre é assim.
Observei na vida muitas pessoas fabulosas ao lado de imensos montes de lixo… mas isto é a complexicidade desse mundo em que moramos. Chamo o mundo de moradia alugada, pois podemos ser despejados a qualquer momento… assim também são com os relacionamentos.


M: Como você explica este teu “casamento/parceria” de décadas com o escritor atrópologo, cientista social Richard Parker. É possível a felicidade entre dois homens – dividir a cama, os problemas e administrar sentimentos como ciúmes, amor, dor e paixão – é fácil numa relação a dois?

V: Nossa parceria dura mais de 24 anos e isto é uma ARTE de VIDA. Não é fácil estar do lado de uma celebridade, acompanhar todo o trajeto de vida, carreira, momentos não muito fáceis e outros explendorosos, viagens… uma orquestra a ser conduzida com muito cuidado ou o conteúdo do relacionamento estraga.
Felicidade é uma coisa construída, edificada dia a dia ou sendo mais preciso hora a hora, minuto a minuto e até nos intervalos de felicidade há os momentos de enfrentamentos, diálogos, edificação de personalidades, aceitar e rejeitar, acreditar sempre que os problemas possam ser resolvidos democraticamente e com infinitos ingredientes positivos. É claro que dois homens, duas mulheres, dos seres humanos podem ser felizes… Como falei é uma orquestra e só devemos ter a sabedoria de conduzi-la corretamente.
Dividir a cama é a coisa mais fácil! Que todo relacionamento fosse só dividir a cama…caso fosse só isto o mundo não estaria com tantas camas vázias… a coisa importante no relacionamento é levantar depois da cama e continuar anos e dias que se seguem em suas vidas. Ai sim você prova e conduz o seu relacionamento…
Lembro-me sempre de um desenho de um casalzinho nú nos jornais que dizia “Amar é”… tão simples, mas tão difícil de ser adotado no seu relacionamento…
Ciúmes
eu tenho muito! Amo ter ciúmes controlados, eficazes, moderados, transformadores da monotonia… Um sofrimentozinho básico faz parte da rotina do amor. Não consegeria viver sem esse floral do ciúme positivo.

Amor pelo meu parceiro é do tamanho do mundo ou diria maior ainda, pois o que sinto pelo meu homem é algo inesgotável.

Paixão é uma delícia, mas é cruel, machuca, esfola e faz muitos relacionamentos acabarem, pois as pessoas confudem paixào com obsessão, posse, domínio e isto sào ingredients que azedam o paladar de qualquer receita perfeita. A paixão é coisa de primeiras semanas de namoro e os últimos dias de romances nào correspondidos por uma das partes. Falta na paixão o equilíbrio.

M: Como é o Vagner de Almeida no dia à dia. Como é um dia de rotina de um brazuca em Nova York? Você tem planos de voltar a viver no Brasil?

V: Eu não me sinto um BRAZUCA, sou um homem do mundo, um mundano como falava a minha mãe em vida, mas de forma agradável de se ouvir.
Tenho a minha casa aqui em NY e outra no Rio… Vivo trabalhando nos dois continentes e as minhas identidades com o Brasil e os USA são semelhantes. Sempre digo aos amigos que “o meu país é aquele que me trata bem, me respeita e me dá oportunidade como ser humano”, por isso me acho um pequeno património mundial. Caso tenham que morrer no Nepal e feliz, lá será a minha pátria e as minhas cinzas serão espalhadas ao mundo dali mesmo.
Não posso nunca falar mal dos USA, pois os enfrentamentos que passo aqui, tais quais ou piores passo no Brasil. Fico muito sentido quando escutos as pessoas falarem mau dos americanos, generalizando a sociedade. “Tanto aqui qto ai porcaria também há”. Tenho amigos maravilhosos aqui e no Brasil… na verdade tenho amigos incríveis no mundo inteiro, pessoas que me admiram e eu as admiro. O que não presta nas sociedade são os seus governantes, os seres do poder. Esses sim não prestam em lugar nenhum da terra.

M: Talvez a face mais cruel e desumana de tratamento para com os Gays seja a velhice. Numa realidade capitalista, imediata e superficial na qual estão inseridos os homossexuais – ficar velho pode ser em vida um injusto atestado de óbto, já que vitmas de estigmas e da segregação, muitas destas pessoas se tornam infelizes. Você concorda com isso?

V: Não concordo! Pois ao concordar com isto deixaria uma série de exemplos positivos sobre a velhice de lado, engavetados... Ficar velho é um processo de vida. Todos nós ficaremos, gays ou não. A forma de como conduzimos e edificamos a nossa velhice é que fará a diferença. Ouço muitas pessoas que estào sozinhas, abandonadas, sem família, sem amigos escomungarem a vida. Eu acredito na família pretendida, criada no decorrer de nossa passagem por aqui na terra. Temos que aprender a sermos menos auto-centrados, nos isolarmos por acharmos que somos superiores, esnobar em jovem o menos favorecido. Trabalho com várias pessoas idosas e as vejos em ângulos diferentes. Há parcerias de mais de 40 anos gays, 50 anos heteros e etc. Qdo observamos a era capitalista, o individualismo acelerado, o egoísmo acentuado, ai sim percebo que a velhicde é muito triste, principalemnte se nada foi construído de forma positiva para que qdo chegarmos nela, possamos sabiamente enfrenta-la e deixar nos levar com serenidade. Não tenho medo da velhice, da argamassa descer, mas a alma elevar-se em planos superiors.
A infelicidade, atestados de óbtos sào coisas espalhadas dentro de todos os segmentos da vida.
Eu espero morrer um velhinho acesso, eletrico, vivo, rindo e observando as coisas boas da vida… quero, necessito e desenvolvo no presente aos 48 anos uma identidade zen para mim e com o meu parceiro.
Sem julgar, mas expondo as minhas idéias sobre esse tópico observo que com um pouco de esforço de todas as gerações, inclusive dos idosos as coisas poderiam caminhar de uma outra forma.
Devemos desconstruir e criar uma nova idéia de que ser velho e gay não é um caminho para a morte solitária. No dia em que a nossa sociedade global observar que para cada problema há várias soluções, ninguém mais morrerá no abandono e na solidão, que tantos nos dias de hoje vivem.

M: Como estão acontecendo as tomadas com Gays da terceira idade para o seu próximo trabalho? Já tem um título definido? Porque você escolheu este tema?

V: Serei daqui alguns anos uma pessoa de terceira idade e quero agora aprender com eles como enfrentar todos os dias dos dias de nossas velhices. Pois a velhice não deve ser generalizada como fim de carreira de vida, mas sim uma edificação de aprendizados e sabedoria. Devemos sim é festejar sempre que for possível a nossa trajetória a velhice.
Há muito observo, convivo com todos os tipos de idosos. Moro no Leme, no Rio de Janeiro e Copacabana é um reduto de teceira idade de todos os gêneros e estilos. Quando nas minhas caminhadas matinais observo uma série de idosos fazendo as suas caminhadas. Alguns ativos e sozinhos, capazes de se movimentarem sós e outros em suas cadeiras de roda e guiados por sus familiars e infermeiros. Percebi que do outro lado da cidade em setores menos privilegiados, haviam, existem outros idosos carentes. Foi dai que surgiu a idéia de fazer um link com o que eu faço. Nosso projeto na ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS com jovens HSH, deu-me um senso de passagem de vida e o que esses jovens serão daqui há 50 anos, 60 anos e eu nem mais aqui estarei. Ouvindo participantes das oficinas referindo-se aos Cacuras ( gays idosos), percebi que algo necessitava ser feito e comecie a colhetar ideías, fotografias, entrevistas e oficinas com idosos gays… os resultados começam a brotar e isto esta me dando muita satisfação em poder mais uma vez contribuir de uma forma muito objetiva com esse segmento da comunidade gay, não muitas das vezes assistidas.
O filme não tem título ainda, pois agora o que menos importa é o título, mas já tem forma o que é mais importante. Com a ajuda de Deus espero estreiar esse ano uns 4 documentários, incluído esse da terceira idade gay. Qualquer contribuição sera extremamete bem vinda, qualquer história de vida, fotos etc serão extremamente fundamentais para a realização desse projeto.


M: Vagner de Almeida é hoje uma referência internacional. O seu documentário “Borboletas da Vida” realizado em 2005, ganhou o primeiro lugar no New York Brazilian Filme Festival, foi um sucesso de crítica e de público e agora roda o mundo integrando outras jornadas e festivais. È muita responsabilidade? Fala um pouco pra gente deste trabalho .

V: Ser referência internacional é uma consequência do meu trabalho que venho realizando com a população homosexual desde o ínicio dos anos 80 com o surgimneto da AIDS.
“Borboletas da Vida”, realmente me projetou e está projetando em setores até então ainda não fixado com o meu trabalho. O prêmio no NYBFF, foi um marco e uma porta para ir em frente com o filme e com a carreira. Agradeço imensamente a oportunidade que as forças do bem me deram em ser premiado. Hoje viajo o mundo inteiro, o filme está competindo em diferentes festivais de diversidade sexual. Sou convidado pelas maiores univesidade dos USA e do Brasil para apresentar o filme seguido de debates, seminários e congressos. Isto é uma dádiva, um presente dos seres elevados que me protegem sempre. Tenho uma responsabilidade imensa com a minha instituição no Brasil, a ABIA, a qual tem me apoiado anos a fim para que esses tipo de projeto seja feito. É uma responsabilidade com a equipe que me acompanha estes anos todos. Tenho profundo agradecimento ao meu parceiro e diretor geral da ABIA Richard Parker, aos coordenadores gerais da ABIA, Veriano Terto Jr e Cristina Pimenta e aos meus assistentes de projeto e de filme Josias Freitas e Fábio de Sá. Só no ano passado o filme foi exibido em mais de 600 lugares, isto significando que houve quase duas aprentações por dia desse filme não comercial. Mais de 600 cópias foram distribuidas no Brasil inteiro gratuitamente para fundações e ONGs que trabalham com a diversidade sexual, inclusive há uma cópia, creio que disponível ao público ai no GGB.
Este anos estamos inscritos nos festivais de Miami e Toronto. Uma maratona de atividades incrível.

M: Estamos anciosos para saber do seu novo trabalho “Basta Um Dia”. À quantas anda as tomadas – cenas no Brasil e nos EUA ? Porque este título? E mais ainda, ao resolver fazer um documentário denúncia da gritante matança e da impunidade que ronda os crimes contra travestis, você pretende de alguma forma tornar público e cobrar justiça contra tal crueldade? Como é transitar no universo dos travestis?

V: Este filme é um outro marco na minha vida de ativista, artista, transformador e formador de opinião.
“Basta um Dia” é realmnete uma cobraça silenciosa, aqual espero que saia em gritos depois de lançado e que a impunidade de nossa sociedade seja revistada pelos orgãos competentes. O título é simplesmente o que tenho observado nas vidas desses atores sociais, as travestis. Para elas o dia seguinte é algo muito distante, pois vivem, como muitas mencionam hora a hora e não esperam nada do futuro. Qdo observamos os assassinatos de tantas meninas fabulosas e que até hoje nada foi feito para solucionar esses crimes de ódio surge uma imensa revolta. Transitar com essa comunidade é simples, rica e renovadora, basta nos intergrarmos e adiconar o respeito, o carinho e nos permitir entender e nos fazer enterder em ambos os universos. Nunca tive nenhum problema com nenhuma comunidade, pelo contrário sou sempre extremamente bem aceito aonde chego. “Basta 1 Dia” é um segmento de tantas impunidades reinates na Baixada Fluminense do Rio de Janiero.
Muitas pessoas me perguntam o por que de focalizar só um local específico em meus filmes? Um local determinado como se eu estivesse generalizando o mundo ou o Brasil? Minha resposta é muito simples. Não tenho pernas e braços para abranger o mundo todo. Então aqui, aonde eu tenho possibilidades de me organizar para dar o meu grito social e que este cantinho sirva de incentivo para que outras pessoas no Brasil ou no mundo comecem a refletir e agir para que tantas impunidades sejam castradas e os criminososo sejam banidos da sociedade livre.
Qdo “Borboletas da Vida” foi selecionada para o programa da Rede TV em Direitos de Resposta em Janeiro de 2006. Foi neste momento em rede nacional que percebi que o meu filme estava fazendo a sua parte social no mundo. Estivemos no ar mais de 85% do tempo exemplificando as idéias dos debatedores convidados pelo programa. Foi um marco para o filme e para o nosso Projeto Juventude e Diversidade Sexual da ABIA.

M: Técnicamente falando como é o teu trabalho?

Simples, muito simples, pois através de simplicidade eu monto os meus mosaícos. Trabalho tudo em digital e uso a criatividade. Há um fato muito interessante na minha vida para ser relatado:
“Um cineatas na noite da entrega dos prêmios no NYBFF, no intervalo disse-me que havia visto o meu filme e que observou que eu usei uma camera muito pobre para realiza-lo. Achei ofensivo, mas como não era hora parar discutir técnologia naquele exato momento, eu simplesmente agradeci a ele por ter assistido o filme e me retirei para o salão de premiações. Horas mais tarde meu filme é anunciado como melhor documentário de 2005. Um surpresa para mim, pois não esperava por tal premiação em meio de tantos outros filmes. Mas as Borboletas mereceram e foi premiado pela crítica e público.
Na recepção o cineatas estava confuso e completamete desorientado e falando publicamente mau de todos os filmes premiados, inclusive o meu. Calmamente em meio de tantos outros premiados e não, eu pedi a palavra e lhe disse… “em filme uma das coisas que mais conta para o gosto do público e da crítica é a criatividada, é o diferente, o novo. O meu filme não tinha uma camera boa, segundo você, mas tinha criatividade e foi premiado. O seu não foi com uma técnologia mais avançada!”

M: Como você gosta de colocar as imagens? Ângulos, edição, trilha sonora, luz....e pesquisa, há algum roteiro na sua mesa já sendo pensado para um próximo trabalho? É cara esta arte dos documentários? Você tem patrocínio?

V: As imagens são colocadas de forma que faça link com a história e não se perca no meio com a minha criatividade descontroalda, pois é o que mais se vê nos dias hoje. As imagens para mim, na minha linha de filme-documentário, a camera não se move muito, fica ali imparcial perante os atores sociais. Vário o máximo os ângulos, até mesmo para não cansar o público e recheio o filme com metáforas em fotografias. Trabalho sempre me equipe, sou um cidadão diplomata e democratico. A minha equipe tem que dar a primeira opinião sobre o primeiro copião, depois parto para alguns amigos inteligentes, pois nem todos são, mas não deixam de ser meus amigos e finalmente para uma sessão de críticos variados, partindo desde o porteiro da minha portaria do prédio até acadêmicos renomados. Acho fundamental essa reciclagem de opiniões. Tenho sempre uma sessão especial para todos os envolvidos no filme e só termino a edição final qdo todos estão de acordo com as suas imagens e depoimentos dados no filme. Por se tratar de tópicos de altissimo risco na maioria das vezes, não posso deixar as pessoas que voluntariamente trabalharam no filme expostas. Depois do ok delas parto para a finalização da última edição… Ai vem a parte técnica da arrumaçào dos defeitos equalizaçào, tradução, legendas, trilha Sonora … sou muto feliz nas montagens dos filmes, pois cada dia que passa eu aprendo muito mais com a opinião das pessoas e o trabalho fica mais enriquecido. Toda a parte técnica é desenvolvida por mim e pelos rapazes do projeto Juventude e Diversidade Sexual da ABIA. Os treinei em oficinas para que pudesem desenvolver seus próprios filmes.
Em “Ritos e Ditos de Jovens Gays” todos os participantes eram das oficinas. Filme o qual antecedeu as Borboletas.
Ainda continua sendo lago caro de ser feito bem, pois mesmo na era de tanta digitalização, caso você não termine bem o filme fica ordinário, com uma finalizaçào pobre.
Tenho dezenas de scripts na minha mesa de trabalho e todos enfileirados esperando inicia-los, assim que termine um produção começo outra. Não deixo nada pela metade. Acredito que corta a minha edificação espiritual.

M: Tem gente acha documentários “escessivamente didáticos e meio sem graça”, como você defende esta produção?

V: Tudo é como se faz ou a ideía que os idealizadores ou patrocinadores propõem. Tenho visto documentarios fascinates e nada didático. Oque na maioria das vezes circulam pelas ONGs são filmes erradamente feitos com intuítos didáticos… Um coisa monocódia, imagens pobres e idéias ralas. Tudo é possível ser transformador de opinião, arte delicada e bem intecionada. Se olharmos o número de videos mau acabados, produções ordinarias as prateleiras estào repletas deles.
O brasileiro ainda nào está habituado com documentarios, mas uma nova geração está surgindo e os próprios clips musicais de certa forma são documnetários e estão formando públicos. A televisão começa investir em docs, mas ainda com uma linguagem de telenovela ou seriado de tv.
Eu não defendo a minha produção, eu faço, eu continuo aprendendo a modificar as minhas falhas anteriores nos novos filmes. Digo modificar, pois no proxímo outras falhas surgirão também.

M: Quem na sua opinião faz um cinema legal hoje em dia? Fotógrafos, videomackers e diretores, quais os seus prediletos?

V: São tantos… há pessoas tão lindas fazendo coisas maravilhosas e estão no back stage do mercado. E outros como Walter Salles Jr, Nelson Pereira dos Santos, Antonio Calmon, Arnaldo Jabor, Bruno Barreto, Tizuka Yamasaki, Ang Lee e tantos outros estào ai produzindo filmes fabulosos…
Meu fotografo predileito é o Sebastião Salgado… ele é maravilhoso e eu encontro no trabalho dele a minha alma de fotografo… ele é o meu guru da fotografia…
Tenho uma galleria de fotografias que contém nos diasheoje cerca de 20 mil fotos. Todas catalogadas e datadas… A fotografia sempre foi uma arte que desenvolvi desde a idade dos 11 anos… Todos os meus filmes elas estão lá assinando fatos e registrando momentos.

M: No rol de grandes interesses da comunidade Gay há a adoção , a “parceria civil registrada – casamento gay”, direitos previdenciários, de herança e de manifestação pública do afeto; Você é a favor da visibilidade Gay.

V: Somos a favor da adoção, pois há tantas crianças necessitando de casas e pais para ama-los e dar um direção a eles na vida. Eu e o meu parceiro sempre endossamos a adoção por gays.
Parceria civil é importantíssima, pois o casal estabelizado gay é muito vulnerável perante as leis brasileiras. Somos alvos das maiores injustiças socias. O Brasil ainda contínua com as suas leis muito retrogadas mediante ao fato de que o gay brasileiro é um cidadão que só possui obrigações e raras oportunidades seu favor. Pagamos impostos de renda separados, contínuamos ainda na luta dos planos de saúde em conjuto, não somos reconhecidos como cidadãos plenos. As bancadas religiosas fazendo lobby contra a expressão de amor e carinho que dois seres humanos possam ter um pelo outro/a.
Afeto é de natureza do ser humano e não demonstra-la é castrar os seus sentimentos e liberdade de expressão. Eu sou um cidadão que o afeto aflora em meus poros e jamais me proíbo de mostra-los em público.
Evidentemente que sou a favor da visibiliddade , mas mesmo que não fosse, nós estamos ai cada dia mais infiltrando a nossa visibilidade no cotidiano brasileiro e do globo. Visibilidade não corresponde só aos beijos públicos em shoppings ou nas calçadas de bairros elegantes das grandes mecas metropolitanas. Visibilidade está além de manifestações carnavalescas ou “tanto barulho por nada”. Eqto houver as separações de classes, as facções dentro do próprio movimento gay, haverá um imensa resistência das forças contrárias a liberdade e igualdade da comunidade gay.

M: O que acha das Paradas do Orgulho Gay que estão tomando conta do Brasil, sendo a de São Paulo com 2,5 milhões de pessoas, a maior do mundo em 2005?

V: Ainda fico muito impactado com tanto carnaval, haves e festarias rodeando esse evento. Assusta-me ver uma multidão de pessoas sem um ideal de mudança. Observo uma movimentação, um remexido e não um movimento. Vejo uma série de paradas realizadas em bairros nobres das cidades e trazendo mais uma vez a mesmice de sempre. A mídia corre para o zoologico da parada e estampa as fantasiadas nas primeiras páginas de jornais importantes do país. E o sinônimo da parada é aquilo, como se naquela multidão não existissem pessoas, grupos, entidades lutando os 365 dias do ano para uma vida melhor para os gays. Esses grupos silênciosos, formiguinhas braçais ficam desaparecidas entre tanto glitter, músculos, seios, bundas, sungas, paêtes, plumas, apesar disto tudo fazer parte do pacote da manifestação. Porém não é o verdadeiro espírito da Parada. É uma pena ver essas paradas monopolizadas por alguns e com o comércio cor de rosa impregnado nas paradas. Há quem diga que nada se faz sem dinheiro ou patrocínio, concordo plenamente, mas qdo as pessoas tornam as paradas suas verdadeiras passarelas de vaidades, então o sentido de manifesto é desconstruído. A parada é importante, há muitas pessoas em cada cidade desse nosso país ainda acreditando em mudanças. Porém dentro até do próprio movimento das paradas há a máfia, pessoas que se instalam para de forma direta ou indireta criarem barreiras e dificultar a inserção de todos como uma célula única.
Esper ver 5 milhões de pessoas na proxíma parade de S.P, mas isto parar mim não significa muito, pois sei que em nosos país esse número poderia ser o dobro se fossemos mais concientes que só haverá grandes mudanças mediante o esforço de todos.

M: Qual o recado do Vagner Almeida para os nossos internautas e deixa ai os contatos para quem desejar conhecer ainda mais os seus trabalhos.

V: Devemos sempre lembrar que juntos podemos fazer uma grande diferença no sistema. Acredito em união, parceria, comunidade, sejam elas brancas ou negras, pobres ou ricas, simplesmente necessitam ser fortes, indestrutíveis… Creio que todos os dias que acordo e vejo que tenho mais um dia de vida pela frente sinto que a minha força pode adicionar-se a outras e fazer um imensa diferença positiva para o mundo.
Amo falar com as pessoas, conhece-las, compartilhar idéias e ideais.


Meu contato via internet é: vagner.de.almeida@ gmail.com o mesmo usado para o Messanger

www.vagnerdealmeida.com


domingo, 22 de abril de 2007

Só faltam 40 dias para os meus 50 anos de vida


A Linda “Rosa Juvenil”

A “rosa ” não sou eu não! Baseio-me em uma lição de vida de uma senhora de 87 anos chamada “Rosa”. Ela conseguiu realizar seus sonhos até nos últimos dias de sua existência aqui neste sistema de vida.

Pois é! Sou eu de novo e desta vez mais proxímo do que antes dos meus 50 anos.


Agora faltam 40 dias para a transição. Essa passagem é muito interessante, excitante e até mesmo nos faz acordar centenas de lembraças de todas as cores e gostos. Lembraças recentes e algumas mofadinhas, mas o interessante é garimpa-las todas. Sem vergonha e medo de acorda-las no meio da noite existêncial, no meio de lá de dentro de você. Como uma onda no Mar.


Lulu Santos / Nelson Motta)


Nada do que foi seráDe novo do jeito que já foi um dia Tudo passa Tudo sempre passará A vida vem em ondas Como um mar Num indo e vindo infinitoTudo que se vê não é Igual ao que a gente viu a um segundo Tudo muda o tempo todo No mundo Não adianta fugir Nem mentir pra si mesmo agoraHá tanta vida lá fora Aqui dentro sempre Como uma onda no mar


Hoje não levantei com dor nenhuma no corpo! Saravá! – Minto! Tive uma dorzinha de solidão! Não sei por que ou o que foi. Corri na cozinha e antes de tomar o meu café tomei a minha colherada de “Água de Melissa” e comi uma “Folha de Alface”.

Folha de Alface? – Você há de perguntar! Pois é! Simplesmente me deu vontade de comer uma Folha de Alface. Pronto! Comi! Resposta dada. Dali para frente o dia começou e no decorrer desse dia vou escrevendo a minha transição decimal. De 10 em 10 dias escrevo algo, que refleti durante esses dias.

Hoje eu quero falar sofre “Velhice” e o que eu entendo e aprendo com as pessoas mais idosas, mas vividas, mas conhecedoras do tempo e do espaço em que todos nós, querendo ou não teremos que percorrer. Isto se não formos deletados desse sistema antes do tempo dessa trajetória. – Já mencionei a “Balada de Naraiama, Nora Ney, Vanusa...”.

Na última passagem pela máquina do tempo eu li algo e compartilhei com os amigos a seguinte frase:


“Ficar Velho É Obrigatório, mas Crescer É Opcional”

Pois bem, estas frases e fragmentos que se seguem, muitos deles sairam de um caco de uma mensagem aqui, outra dali e outra acolá. Uma frase de um autor renomado e outras de escritores desconhecidos. Um provérbio de trasseira de caminhão ou de portas de banheiros públicos. Mas ajutando tudo a sopa de letras nos dá um àgape fantástico, extraordinário, fascinante e uma lição de vida para nunca esquecermos o que somos e o que fomos. Sem adicionar o que poderemos ser em qualquer idade que tivermos ou estado de saúde em que nos encontrarmos.

Com a máquina do tempo eu compartilharei minhas experiências e as sabedorias garipandas daqui e dali, cavandas dos meus escombros e edificações da minha própria vida. Uma arqueologia do meu próprio tempo. – Você já temtou garimpar a sua vida? Escrever coisas suas? Sem restrições? Sem medo de críticas? Se receio de errar? Pois não está seguindo regras gramáticais e nem escrevendo dissertações? – Simplesmente dedilhar palavras que saiam expontâneas de dentro de você? Lembrando “Ditos e Ritos” dos idosos ou de seus coleguinhas da escola primaria, revelando secredos no pé de ouvido de cada um de nós? – Pois é! Não temos mais tempo para isto anymore. – Segredos agora, soam como conspiração e os tolos felizes momentos de outrora, já eram... Parece saudosismo, mas é mesmo. Tudo ficou lá atrás e daqui a pouca esse fragmento do momento de minha vida, da sua vida, ficará também.

Pois bem, o tempo nos prega travessuras na memoria. Sem querer, sem perceber ou permitir, nós deletamos as nossas próprias memorias. Por esse motivo, acelera-me a colocar no papel meus fragmentos de meio século.

Olhem isto! Ouvi essa frase e com ela aprendi muito. Recuei no tempo, parei no presente para dar uma pincelada na memoria e embarquei para o futuro para observar como a vida é engraçada, com tantas ansiedades que colocamos lá na frente. Esse fenomeno que nos dias de hoje chamamos de “Estresse Generalizado”

“Nós não paramos de amar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos por que paramos de amar”


– Isto é lindo de mais, não é? - Não me importo o que as pessoas possam achar over, cafona, ultrapassado essas rimas baratas. Eu acho “Bidú” (gíria para legal, mas foi antes do meu tempo)

Há segredos, poções, mandingas para continuarmos jovens, felizes, saudáveis, positivos e conseguindo sucesso.

“Precisamos rir e encontrar humor em cada dia que despertamos. Temos que reservar uma parte do dia para darmos uma gargalhada. Mesmo que o dia não seja propício para isto.”

Uma históriazinha do meu meu curriculum existêncial, aqual mudou muito a minha trajetória na vida.

“Era moleque, calção curto, pernas grossas, pé no chão, cheirava a moleque de meio do mato, cheiro de capim, pasto, carrapichos e carrapatos. Um dia eu me encontrava muito expontâneo comigo mesmo, ria, pulava, saltitava na minha alegria verdadeira de criança descompromissada com a vida. Fui interrompido por alguém, por achar que a minha felicidade passageira a encomodava. Falou na minha cara de moleque de uns 6 ou 7 anos, quem ria assim era mulherzinha, zica, mariquinha, maluco, débil mental... Parei imediatamente de sorrir e saltitar, pois acima de tudo a minha masculinidade havia sido mexida, tocada, envadida. “Caminhei em direção a minha casa com um companhiero velho de 11 anos de vida. Ele morreu dois anos depois, o meu cão branquinho Heroi”. Fiquei indignado por ter me castrado e assumido a postura que aquela pessoa me colocou. Refleti por hora, dias e decidi aos 6 ou 7 anos de idade, nunca mais coibir o meu momento de felicidade, de insanidade positiva. Por nada e por ninguém. – Nem a minha mãe conseguia me parar de gargalhar quando eu começava e ela dizia: “Esse Menino Tem Um Encosto”. E mais ela falava, mas eu recebia o “Encosto Gargalhador’. Que delícia gargalhar, falar coisa boas altas e não sentir medo de ser feliz. Passei a minha adolecência gargalhando até da minha própria desgraça, dos meus erros, minhas derrotas e com certeza de minhas vitórias, as quais têm sido muitas na vida.

Hoje eu já dei as minhas gargalhadas! Umas de mim mesmo! Outras forçadas para massagear a face dos quase cinquentinhas! E a mais engraçada de todas foi gargalhar da própria vida! Rir é um fragmento fantástico em nossos dias estressados. Gargalhar espalhafatosamente é melhor ainda. Mesmo com um “Encosto Feliz Gargalhador”.

Saudades dos tempos que eu gargalhava olhando o meu cachorro “Vira Lata” tentar morder o próprio rabo. Sempre tive cachorro. Todos na maioria adoráveis “Vira Latas”Rex, Laica, Heroi, Ted, Suleika (etá cadela assanhada, cheia de namorados, adorava sacanagem), Menina, Pigmaleão, Jota e a cachorrada da vizinhaça que não saiam de perto de mim. Poderia contar a história de cada um deles. Etá saudades bonitas! – Rex me salvou de um mordida de “CobraCoral” e acabou sendo picado por ela. Mas minha mãe o salvou dando “Arnica” e fazendo “Emplastos de ervas”. Ele foi um “Heroi” e eu chorei muito quando ele morreu deitado na porta de nossa cozinha, perto de um grande fogão de lenha.
Interessante lembrar, que neste dia eu também ouvi pela primeira vez do meu pai que “Homem não chora!” – Mesmo assim eu chorei muito! É uma longa história, tristinha, mas linda de ser contada um dia.

“Necessitamos na vida de um sonho. Quando se perde os sonhos morremos.
Vemos tantas pessoas caminhando por ai que estão mortas e nem percebem.”


Desde moleque com a pipa impinada no ar eu sonhava e acreditava nos meus sonhos. Eram coisas paupáveis, como até hoje em meus sonhos mais absurdos, eu sonho com coisas concretas, possíveis e que me trará de alguma forma prazer e felicidade. – Sonhava com a Papai Noel, Coelhinho, Bicho Papão e na adolecência os sonhos já eram com pessoas, gente grande... A minha “Testosterona” já começa a gritar aos 11 anos. Dai para frente só posso falar dos meus sonhos em um livro com tarjeta preta na frente. Haja história de “Testosterana e Sacanagem” a serem contadas. Fui muito safado! Sempre feliz com as minhas safadezas! Deliciosamente safado e feliz! Tudo isto por que eu sonhava. Sonhava e sonho muito até hoje. “Viva as revistinhas do Zéfiro”, as li muito atrás dos galinheiros e escondido nos cantinhos.

“Qualquer um consegue ficar velho. Isto não exige talento e nem habildade. Porém há uma grande diferença entre ficar velho e crescer.”

Ouvi esse dito na vida, e anos depois alguém me manda isto pela internet em um texto lindo sobre a “Rosa de 87 anos”. Mas essa lição eu já havia aprendido nos meados dos anos 70 de um amigo lindo, que também não está mais perambulando por aqui. Ambos disseram a mesma coisa de maneiras diferentes.

“Se você dormir por um ano, sem fazer nada nos seus 20 anos. No proxímo ano você estará com 21, um ano mais velho e sem ter feito nada”

– Assim sucessivamente na sua vida até ficar velho. Você não necessita fazer nada para envelhecer. Mas envelhecer crescendo é o que faz a grande diferença de fazermos alguma coisa na vida para nós e para as pessoas.

“Nos dias de hoje a idéia é “Crescer” através de sempre encontrar oportunidades na novidade atual.”

- Aprendi também que isto não depende de nenhum talento ou oportunidade, pois é passageiro, como a moda do momento, a musa do verão, a dieta enlatada. Ou até mesmo os anseios de nossos pais querendo que sejamos o que eles não foram. Ou uma reprodução barata e equivocada do que eles são. Cópia será sempre cópia!

Aprendi também que a idéia é crescer sempre encontrando oportunidades de mudar para melhor. Sair das mesmices que as próprias encrusilhadas da vida nos apresentam. Mesclando idéias positivas, acabamos criando as nossas próprias regras de felicidade e ações positivas sem sermos cópias xerocadas de outros, incluindo dos nossos próprio pais.

Com o passar do tempo, com a passeata no tempo, eu tenho tentado mudar sempre para melhor, mesmo quando a balança acusa um pesinho a mais na minha argamassa e a barriga insiste em estufar como um balão tirando-me da estética sarada da moda do momento. É importante nos auto avaliar positivamente através das nossas negatividades. Sair do centro e nos colocar em nossas periferias. Saltar do palco e sentar na platéia. Só assim aprendemos observar outros angulos de dentro para fora e de fora para dentro de nós memos. Não é fácil, mas é possível! Haja mexidelas em nossos chips e parafusos. Pior quando as dobradiças do corpo começam a ranger. Haja Emplasto Sábia, Pomada Belladona, Extrato de Arnica, Losna, Pariparoba... (acabei de dar uma gargalhada). Aos 15 anos não pensamos em nada disto. Somos “Super-Pessoas”. Nada nos acontece! ? ! ?, pois assim acreditamos.

Li e aprendi lições muito interessantes na vida. Coisas que só lemos em parachoques de caminhões. Aqueles que passam levando saudades nas canções dos sertanejos

NO RANCHO FUNDO - Chitãozinho e Xororó


No rancho fundo. Bem prá lá do fim do mundo. Onde a dor e a saudade. Contam coisas da cidade . . . No rancho fundo. Bem pra lá do fim do mundo. Um moreno canta as mágoas. Tendo os olhos rasos d'água . . . Pobre moreno. Que de noite no sereno. Espera a lua no terreiro. Tendo um cigarro por companheiro. Sem um aceno. Ele pega na viola. E a lua por esmola. Vem pro quintal desse moreno! No rancho fundo. Bem prá lá do fim do mundo. Nunca mais houve alegria. Nem de noite, nem de dia. Os arvoredos. Já não contam mais segredos. Que a última palmeira. Já morreu na cordilheira. Os passarinhos. Internaram-se nos ninhos. De tão triste, essa tristeza. Cobre de treva a natureza. Tudo por que?. Só por causa do moreno. Que era grande, hoje é pequeno. Para uma casa de sapê.

Quantas saudades essa canção de Ary Barroso e Lamartine Babo nos trás e com ela depressões, tristezas, angústias e remorsos.

“Não tenho remorsos!’ – Forte não é? Mas contínuando as leituras das placas dos caminhões eu entendi alguns pedacinho da vida a mais para a minha construção pessoal. Olhem isto:

“Os velhos não se arrependem daquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer.
As únicas pessoas que tem medo da morte são aquelas que têm remorsos”


Confesso que fiquei emocionado e parei para refletir a minha própria vida.

Remorso? É algo que qualquer pessoa sente! Seja de que forma for! Nós sentimos remorsos e pronto!

Mas parei muito tempo na frente dessas frase e comecei a peneirar, garimpar os meus próprios remorsos e confesso, que eram raros e todos ainda com oportunidade de serem revertidos em “não remorso”. Como sou feliz, por ter tempo ainda de reverter os meus remorsos em coisas positivas. Li, reli e copiei em um caderninho que carrego na bolsa sempre. As anotações necessárias que a nossa mente sorrateiramente nos faz esquecer ou mistura os chips para nos confundir.

Naquele momento veio a minha mente o falecimento de minha mãe. Puta merda! Com mãe sempre temos remorso de alguma coisa, não é mesmo? A malcriação que fizemos! É o “merda, porra, puta que pariu, caralho e tantas outras palavras proferidas para ela!” É a língua ou a banana que demos nas costas dela... em fim cada um sabe muito bem da lista de seus remorsos.

Pois bem, o fato é simples. No dia do enterro de Vivi, eu não tinha remorso algum. Tinha uma profunda saudade bonita dela. Saudade essa que eu poderia monitora-la e assim continuando ama-la como sempre a amei. Foi uma transição difícil, mas entendi tempos depois e perante esse tal de “remorso” que; Vivi e eu, sempre brigavamos, nos chingavamos, nos arranhavamos, mas não nos odiavamos. Tudo era expontâneo e dito na lata. Toma lá e dá cá! Fascinante! Eramos criativos em nossas brigas. Sabiamos que não podiamos romper o laço, pois um necessitava do outro para contínuar a viver, até que a morte nos separasse de alguma forma no futuro e assim, contínuavamos a vida sem remorsos e energias ruíns concentradas.

Teria muitas outras coisas a contar de pessoas que influenciaram a minha vida muito, mas peguei o tradicional personagem mãe, pois esse é sempre o ser endeusado, proibitivo, vive em redomas de vidro (não mais nos dias de hoje). Os tempos mudaram e as regras também. Vivi e eu criavamos cerquinhas e tinhamos nossos limites pessoais. Foi assim que ela me treinou a ser um cidadão respeitoso e pleno.

Às vezes gargalho de mim mesmo como estou fazendo agora (gargalhei mais uma vez no dia, isto é ótimo). Pego- me repetindo frases que meus avós, minha mãe me falava na minha adolência. Repito a história com outros adolecentes, minha sobrinha, filhos de amigos... “Como nossos pais”. Tentando argumentar ou filosofar o certo e o errado. Como somos chatinhos! Como às vezes tolimos a liberdade das pessoas. Que virus é esse que trazemos na trejetória de nossas vidas? – Adquirimos lá na infância. Lá no núcleo familiar.

Tenho muitas ideais na vida, muitas coisas para fazer, desdes as mais simples tal qual varrer a minha casa, até as coisas que possívelmente no presente serão varadas na àgua, mas que de alguma forma contribuirão para um mundo melhor lá na frente. Nos proxímos anos, quiças proxímos séculos.

Nunca será tarde demais para mim ou para ninguém ser tudo aquilo que queremos e podemos provavelmente ser.

Ainda vou aprender a fazer tricó, carpintaria, escultura em mármore e tantos outros etcs que tenho em mente.

Creio que ainda tenha mais 50 anos. Isto me dará 100 anos! Dois séculos, creio que serão o suficiente para podermos fazer alguma coisa pelo mundo. Depois de um século vivido, quero só plantar tomates e batatas no meu quintal e no final do dia tomar um banho de mar e um caipirinha bem gelada. Por agora, é só o que eu quero com os meus 100 anos. Depois escrevo mais o que desejo..., mas agora é só isto!

Ah! Esqueci do mais importante!

Quero no final de cada tarde sentado proximo a mim a pessoa que amo, e os amigos que me restarem naquela época, saboreando a minha caipirinha, cajuada, maracujada... quiças ainda podendo morder um pedaço de rapadura.

Depois só o destino dirá e poderá contar a nossa própria história de vida!

Vavabrasil, Vaguinho, Timbó... todos sou eu

Visitem o meus site e blogs e teçam comentários.


www.vagnerdealmeida.com






quarta-feira, 11 de abril de 2007


Abril 11, 2007

Ficar velho é Obrigatório, crescer é Opcional!

Pois é são agora 50 dias para dar um mergulhão na máquina do tempo e compartilhar as minhas experiências e sabedorias adquiridas nestes 50 anos!

Hoje não levantei com nenhuma dor em parte alguma corpo!
(confesso que procurei alguma coisa)

Então convenço-me que as dores físicas da vida, muitas das vezes não condizem com a nossa idade. Mas com o nosso estado de espírito. – Essa coisa que chamamos de “Estresse”, “Terrível Humor”, “Ódio, Raiva, Ira, Inveja, etc”. – Somatizamos e dai as dores aparecem. “Toda regra tem excessão” – Inclusive até o “Prazer” tem as suas dores espéciais. Sim! Refiro-me também ao “Prazer Sexual”.

Há 50 dias desse mergulho, neste espaço que muitas pessoas denominaram de “Crise”, estou me auto avaliando e revendo todas as minhas gavetinhas.

Poderia até cantar uma obra prima de “Vanusa”, minha ídala nos anos 70

“Pode ser over, mas como resistir a um dos maiores sucessos de Vanusa, na qual, ainda por cima, ao final a cantora faz um discurso feminista impagável? Essa faixa abre o LP Viva Vanusa (1979).” - Comprem o CD, pois é fantástico! Viagem no tunel do tempo!

Mudanças


Composição: Vanusa e Sérgio Sá


Hoje eu vou mudar/Vasculhar minhas gavetas/Jogar fora sentimentos e/Ressentimentos tolos/Fazer limpeza no armário/Retirar traças e teiasE angustias da minha mente/Parar de sofrer/Por coisas tão pequeninas/Deixar de ser menina.../Pra ser mulher/Hoje eu vou mudar/Por na balança a coragem/Me entregar no que acredito/Pra ser o que sou sem medo/Dançar e cantar por habito/E não ter cantos escuros/Pra guardar os meus segredosParar de dizer/"não tenho tempo pra vida"/Que grita dentro de mim.../Me libertar


( parte declamada) – recita isto em voz alta ou baixa para você mesmo/a e verá que transformação interessante você estará fazendo dentro de seu mundo existêncial.Pode cantar de se quizer, até memso desafinado.


Hoje eu vou mudar/Sair de dentro de mim/Não usar somente o coração/Parar de contar os fracassos/Soltar os laços/E prender as amarras da razão/Voar livre/Com todos os meus defeitos/Pra que eu possa libertar os meus direitos/E não cobrar dessa vida/Nem rumos e nem decisões/Hoje eu preciso e vou mudar/Dividir no tempo e Somar no vento/Todas as coisas que um dia sonhei conquistar/Porque sou mulher como qualquer uma/Com dúvidas e soluções/Com erros e acertos/Amores e desamores/Suave como a gaivota/E ferina como a leoa/Tranquila e pacificadora/Mas ao mesmo tempo/Irreverente e revolucionária/Feliz e infeliz/Realista e sonhadora/Submissa por condição/Mas independente por opinião/Porque sou mulher/Com todas as incoerências/Que fazem de nós.../O forte sexo fraco.

Eu tenho e acordo sempre lembraças deliciosas ao lembrar-me dos anos 70. Década para mim de “Luz’. Para outros históricamente falando de “Trevas’, ditadura, coturnos, sirenes, desaparecimentos, bombas a gases, torturas, jipes verdes e camburões pretos e brancos, cavalarias montadas, cães treinados para atacar, cacetes nas mãos, correrias, gritos e pa-pum “E lá estás um corpo estendido no chão...” – Mas o Grupo de Teatro Asdrubol Trouxe o Trombone, Marcel Marceau, Maurice Bejart, e meu Grupo de Teatro Pó fundado em 1970, me deram garra, visão e muita emoção também. O teatro foi um arco-iris para mim. Revisitei a nossa literatura e me comportei como um adolecenete criativo, rico nas idéias, fugaz, sexi, auto estima equilibrada... uma delícia de anos, dias e horas em minha vida naquela década de luz para mim.

Novamente trago a tona, no lado raso da minha máquina do tempo a figura de Vanusa. Mas tenho tantos outros ídolos daquela época. Não necessito cita-los ainda, mas foram um colírio para os meus olhos nos anos 60, 70 (ano luz) e no começo dos anos 80, quando tudo em nossas vidas, na minha vida mudou drasticamente com a chegada da AIDS e com a partida de nossos amigos, irmãos e ex-parceiros/as. – Querendo ou não houve uma grande revolução em nosso cotidiano. – Essa revolução em algumas pessoas só veio acontecer mais tarde, bem mais tarde, e outras nem tiveram tempo para revolucionar seu dia a dia na era da AIDS. – Tenho saudades de tantos amigos/as da praia ovacionando o por do sol, do bar da esquina com uma garrafa de cerveja, da escola católica cabtanto hinos religiosos sacros, da universidade católica e amigos pensantes, revolucionários, hippies, dos parques nos finais da noite, das festas com bebidas baratas e das camas onde mentiras e verdades foram poetisadas. Etá saudade boa de sentir! A saudade das camas ficará para um proxímo capítulo mais censurado para menores de 50 anos! Fui muito assanhado na vida! Fui não! Sou assanhado até hoje! Que Deus abençoe o “Viagra” e que aos meus 80 e 90 anos, tenhamos muitos outros Viagras, Ciales, Garrafadas e etc para levantar a moral e os maus
costumes e tudo mais.

Alguém, com um delicioso cinismo e com uma deselegância natural (típica dos dias atuais, dos modernosos momentos em que vivemos) me escreveu, respondendo a minha mensagem anterior. Essa pessoa, instigou-me e catucou-me com uma vara curta.
“Vagner!
Bonitinha essa sua mensagem que você me enviou encheu a minha caixa do meu e-mail. – Muito otimismo, muitas saudades bonitas nos seus escritos como você mesmo descreve. Mas intrigou-me saber que você perde tempo em escrever essas bobagens sobre você e pior que gosta de compartilhar comigo.(risos)
Tenho uma pergunta para você. Eu lhe conheço há muito tempo e vi toda a sua trajetória na vida, ou quase toda... Mas me intriga essa sua luta para não deixar a peteca cair, faz trabalhos sociais que parecem mais varadas na àgua, pois muitas pessoas nem estão ai para o que você faz. Quanta energia por nada Vagner.
O vi em dezembro de 2004 quase desequilibrando-se quando a sua mãe morreu... mês de Natal, final de ano...A minha moreu quase junto com a sua.
Como você consegue fazer esse malabarismo em sua vida?
Muito otimismo para alguém que está pendurando as chuteiras (risos) em breve, pois 50, não são mais 20 ou 20 e poucos antes dos 25 anos...”

Primeiro quero repetir uma frase que o meu avô “João Benício de Almeida” sempre me disse;

“Amigo é aquele que pode pensar em voz alta perdo de você com classe, estilo, moderação e sem ultrapassar os limites”


Concordo com o velho João completamente.
( a história do meu avô é muito interessante, mas não vou contar agora não. Ele foi marido da Cacilda Dorotéia - (retorno a repetir: Isto é nome?)

Retornando a pergunta do meu conhecido! - Na verdade deu-me vontade de responder essa pergunta coletivamente, pois creio que as coisas na vida não são em vão. Inclusive as pessoas que aproximam-se de nós para nos catucar com varas curtas.


Pois é! Otimismo! Não é a palavra que enraiza a minha vida na verdade. O que me move todos os dias é a “Disciplina e o Sonho”. É a coragem de observar os meus erros dos dias anteriores e tentar conserta-los no presente ou no futuro. Não é a disciplina de ser certinho e fazer as coisas da agenda, pois nesse quisito a nota é baixa muitas das vezes em minha vida. Mas de organizar o desnecessario com coisas que eu possa desfrutar de forma positiva... inclusive como estou fazendo agora depois de repensar sobre o que meu conhecido me falou. Creio que tudo que faço na vida, não seja varadas na àgua, pois acredito em mudanças. Às vezes elas levam anos, séculos para se tornarem reais. Creio nas mudanças positivas. Levam tempo, muito tempo e possivelmente não estarei aqui para ver muitas Bortboletas sairem dos casulos. Mas sempre vou acreditar nas Borboletas e nos casulos também.

Deparo-me todos os dias com barreiras, dragões, muralhas, tormentas, escuridões, veredas e tantos outros obstáculos que qualquer um de nós temos que nos deparar na nossa passagem por esse sistema de vida. Mas sigo e caminho cantando quando posso, chorando quando necessario e esbravejando quando necessário também... Os amigos que me conhecem também conhecem o meu lado apimentado. Ichi! Mas consigo ser uma rapadura também. Como diz a pessoa amada: “ Vavá é como açucar mascavo, doce, porém não refinado!” – Adoro essa descrição de minha pessoa, pois sou assim mesmo mascavado!

Vou me desbravando nestes anos todos sempre abrindo veredas. Não há picadas, becos, trilhas que eu não consiga nos dias de hoje percorre-las, às vezes com uma certa incerteza, receio e medo, mas sempre em frente.

Não sei o nome que as pessoas possam dar para essa atitude, mas eu sei o que eu posso fazer por mim. Eu sei o que devo fazer por mim, para que eu possa me fortalecer para poder fazer pelos outros.


Como disse, nada na vida é em vão. Nada! E estar aqui hoje a escrever essas linhas à 50 dias dos meus meio século e existência, também não é em vão. E tenho que ter muita coragem também, pois acabo me infectando, achando que sou um tolo em compartilhar isto com as pessoas que fazem parte da minha história de vida. Mas querendo ou não você fez e faz parte da história. É um personagem na minha cartilha em quadrinhos e não quero descartar a folha desse foletim.

Essa semana recebi alguns e-mails extremamente comoventes de amigos, pessoas que leram o que eu escrevi e queria compartilhar com vocês.

Compartilhar é uma palavra que está fugindo do vocabulário e da atitude do ser humano. Hoje temos é que competir e não compartilhar! Temos que derrubar o outro para sempre sairmos na frente. Triste e lamentável!

Sou um “Velho Cajueiros” (Ih Alcione desceu), e acredito que possa ainda prover sombras com as minhas parcas folhas secas para que um amigo possa desfrutar e repousar sobre elas.

Aos amigos abaixo, compartilho, com outros amigos as suas palavras tão ricas para o meu crescimento. Você/s não podem imaginar como isto fez uma imensa diferença no processo da minha construção diária.

Otimismo? Perseverança? Solidariedade? Alegria? Medosss? – Tenho de sobra para dar e compartilhar.

Faço a trajetória dos 49 para os 50 feliz da vida, pois os ingredientes para o bolo da felicidade está sendo adquirido no passar desses anos todos. Há alguns bolos que solam no meio dessa trajetória, mas outros são verdadeiros milagres na vida. E a vida além de ser um Cabaret, também são bolos que solam ou não! Ambos podem lhe alimentar a sua existência. Só basta saber saborea-los com sabedoria e disciplina.

Gente! Eu não fumei, pois não fumo (a verdinha), e nem cherei, pois não cheiro!(a branquinha). Só gosto mesmo é de acordar lembranças bonitas.

Saravá meu Pai! Oxalá! Alá! Jeová!...

Eu nasci assim! Vou morrer assim! Sempre Gabriela (Ih! Errei o texto)


Sempre Vavabrasil!

Vavá,

Um grande bom dia prá você! Só você consegue criar de um "simples" aniversário, digo "simples", porque para a maioria das pessoas isso passou a ser banalidade! E na verdade a cada dia renascemos, diante das "balas perdidas" aqui no Brasil. E você faz disso tudo uma grande poesia. O seu otimismo abrilhanta cada vez mais a sua vida! Meus parabéns meu amigo, parabéns adiantado pela pessoa que você é e consegue se manter feliz, lindo, poderoso, mesmo diante das adversidades da vida!
Você realmente não nasceu..você surgiu...apareceu...e começou o seu show!
Parabéns!!! te amo!!! Cris

Querido Vava

Que história interessante. Mas...você era gordinho mesmo !!! Você estará aqui para comemorarmos no dia do seu aniversário ou será aí em NY. Seja lá como for estarei aqui vibrando positivamente para você. Pense que as suas dores no corpo é resultado de uma vida feliz e produtiva, e não aquela ressaca de quem passou pela vida sem construir nada. Beijos e uma páscoa cheia de paz.
Miriam e Geraldino.

­­­­­­­­­­Vagner, acho que sua adapatação para a musica da Nora Ney está equivocada. Deveria ser assim: TODOS me amam, TODOS me querem, TODOS me chamam de meu amor. Para mim a vida não passa... Todos os abraços do mundo. José Carlos

Vavá, meu querido.
Seu entusiasmo é sempre contagiante, rapaz!
Que maravilha! Chega me deixou animado!
Por favor me inclua entre seus convidados!
Quero ser igualzinho a você quando eu crescer, heheheh
e olha que só faltam 15 pra eu chegar aos 50!
Saudades e parabéns, desde já!
Um cheiro,
Adriano

olá meu irmãoAchei muito interessante seu nascimentoe por um momento pensei:este vagner arruma cada história....kkkkkkSegundos depois comecei a refletircom seriedade e principalmente com ciência,ou seja, por que será que ele nasceu com três dias?Então olhando os vários prismas de uma resposta cientifica comecei a eliminar as possibilidades,para achar aquela que eu acho que seja uma das verdades. primeira opção:o vagner é um mentiroso;ele não nasceu de tres dias.esta opção foi descartada pois amigos não menteme vc é uma das pessoas mais verdadeiras que conheci; segunda opção: o vagner é louco,como pode alguem nascer de tres dias?esta opção tambem caiu por terra devido toda sua cultura e capacidade intelectual; e depois de muitas perguntas e respostasenfim Deus resolveu se manifestar e revelarmais um destes mistérios que só as pessoas que ele escolhe pode entender. enfim a verdade:uma estrela leva milhares de anos para se formar e refletir a sua luz por todo o cosmo.então pensei ele demorouvários anos para se formar por isso demorou tres dias para nascer.resolvi a charada! E DEUS do alto de sua sabedoria e bondade me disse:"muito boa a sua forma de pensar,porém esta errado." então perguntei : errado! como?se o senhor disse que uma estrela demora anos para se formar! então o Senhor disse: "o VAGNER não uma simples estrela, ele é uma estrela unica no universo por isso por onde passa faz com que a luz se revele nas trevas,que o amor brote no ódio,que a paz reine sobre a guerra." Então compreendi: vc não é uma estrela e sim um milagre em nossas vidastenha uma semana santa abençoadavc e todos aqueles que estão sob a sua luz.grande beijo!!!!!!!!!Prof serginho
Ual!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Precisamos comemorar mesmo!!!!!!!!
todos os dias do ano!
Afinal somos FENIX!

muitas saudades de vc!!!
Parabénsssssssssssssss! Parabénssssssssssssss!

Kissessssssssssssssss!
Take care!
Love

hahaha Adoro os seus e-mails...
Como vai vc minha borboleta?! Faz tempo que a gente nao se fala, tbem.... esta vida de NY nem sempre nos permite uma vida super sociavel.
Manda noticias. E aproveita muito o ultimo mes dos quarentinha, para entrar nos cinquentoes COM TUDO.... Energia e positivismo vc tem de sobra.
Bjs querido,
Carla Portella


Vagner querido você e Valentina nasceram quase no mesmo diapois ela nasceu no dia 27 de maio as 10.30 da noite e devo dizer que eu também sou resultado de um parto muito difícil quando estivernos juntos eu te conto toda a históriaque é bem longa você vai estar no Brasil?

Obrigada, Vagner. Imprimi para ler com calma, mais tarde. Depois comento, ok?
Um abraço da Noêmia Maestrini

Mona, a senhora estava pra lá de marakech quando escreveu esta mensagem, diga verdade!Tudo de bom, amigo Vagner, 10, quase 11 anos mais novo que a euzinha daqui.Beijos e muita felicidade.mott

Não é pouco tempo não!!!! Bom, se posso te ajudar a peregrinar durante esses trÊs días, é TEXTO DO CARALHO. QUE LINDO. ADOREI.
E A CELEBRACAO VAI SER ONDE MESMO? ADORARIA PODER ESTAR COM VOCE, MAS NAO POSSO PROMETER NESTE MOMENTO. QUEM SABE DURANTE SUA CONTAGEM REGRESSIVA.
BRAVO!
UM BEIJO E FELIZ PÁSCOA TOO.
RONALD E REGINATO


Você é demais! Comemore e bebemore mesmo, que voce merece. Beijao, Carmen


Gato! adorei! Como sempre, parando tudo bonita!
Não esqueça do meu convite, faço questão de ir a esta festa inesquessível.
OBS: Já falei e vou falar de novo "você fica cada vez melhor é praticamente um vinho".
Josias

Oi Vagner, Feliz Páscoa pra você também! E parabéns antecipados pelo seu aniversário, mas quero tomar uma cachaça com você na época pra comemorar (pode tomar vinho, o aniversário será seu!).
Beijo
Mônica

Detalhes como estes acima é que me dá a garra de contínuar a contruir um mundo melhor.

Só faltam agora 50 dias e quase 1200 horas.

De onde Vivi estiver ela estará me olhando e dizendo:

“Esse moleque é danado!
Passe aqui menino safado!
Já prá casa!
Vaguinho, Vaguinho quando chegar em casa vamos ter uma conversinha”


Vaguinho era como ela me chamava todos os dias d enossas vidas juntos!


Saudades bonitas daquele tempo.


Saudades bonitas que guardo na memória do passado, hoje no presente.

Beijos

Vavabrasil

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segunda-feira, 2 de abril de 2007


Dois (2) de Abril de 2007!

Faltam só 59 dias na era dos 49 anos!

Lá vai! Ichi caramba hoje acordei com dores nas costas.

Será que isto conta, na contagem regressiva? – Gargalho de mim mesmo!

Dias 29,30 e 31 de maio faço a minha peregrinação para os anos 50.... meio século de acumulos e muitos louvores.

Antes que me pergutem, por que só eu faço 3 dias de aniversário eu vou logo contando por etapa:


Dia 29 mamãe “Vivi” gritou que eu estava nascendo lá no meio do mato onde moravamos. Mas o médico dela “Dr. Sérgio”, disse que ela teria que ter o filho “euzinho” no hospital “Casa da Providência em Petrópolis” – Mas a minha adorável avós Cacilda Dorotéia (isto é nome?) e uma adorável tia chamada Ilka, resolveram chamar a parteira da fazenda para retira o rebento de dentro de minha mãe. Pobre Vivi, com um monstrinho dentro dela de 5 quilos e 800 gramas. Tadinha dela, fizeram de tudo e quase a empacotaram. Resultado eu não sai! Fique lá sendo espetado (lembro de tudo) pela parteira. Fazendo pirraça, enquanto Vivi se contorcia de dor e aos berros. – A fazenda toda parou! Segundo as pessoas houve um silêncio no ar nunca antes naquele lugar.

Dia 30 às 11:30 da manhã, finalmente nasci depois de um parto longo na história da Casa Providência. Vivi sobreviveu a cezariana e eu também consegui finalmente respirar aliviado. Quase aliviado, pois estava todo roxinho, segundo os demais. Roxinho para preto. Nasci fui lavado, levei a tradicional porradinha na bunda e me levaram para um balão de oxigêneo. Desde pequeninho já estava acelerado com um arzinho espécial.
Hora de mamar! Não tinha leite para Vavabrasil. Vivi estava tão estressada que o leite dela desapareceu. – Fui mamar nos seios da vizinha! Depois entrei na mamadeira de garrafa de guaraná “Cascata o nome” com um bico de borracha vermelho na ponta. – Agora já leite de vaca puro.... Ichi! Eu acho que já adiantei a história para os dias seguintes.... Nasci no dia 30 de maio de 1957.


Dia 31 fui registrado no “Cartório de Cascatinha distrito de Petrópolis por um escrivão bebão”
Detalhe espécial; “Meu pai estava bebado também. Agora eu não sei se era de felicidade ou de preocupação de ter colocado mais um filho no mundo sem poder. Ele só tinha 18 anos e a minha mãe 14 anos. ”


Por toda essa história fragmentada que lhes contei, resolvi depois dos meus 25 anos comemorar o meu aniversário nos três dias. “É o meu aniversário eiu faço dele o que bem entendo, não verdade?”


Creio que a vida é muito curta, então por que não comemora-la todos os dias e em espécial no dia do seu aniversário.

.A vida não é uma “A Balada de Narayma” não. (Narayama Bushiko, 1983 recebendo a Palma de Ouro de Cannes)

Quem viu esse filme japonês nos anos 80? – Muitos de vocês nem haviam nascido ainda. Lindo demais! Vale a pena vê-lo parar e refletir sobre essa história de transição da vida. Não vou contar a história ou perde a excência da vida.

Mas emfim caros amigos, a vida contínua e eu estou com ela bem paralelo na corrida do tempo.

Saudosismo? Algumas coisas curiosas passam nos bastidores da mente e refletem no momento presente.


Uma dorzinha aqui e um fio de cabelo branco ali. Ambos eu dou uma de nó cego e digo:

“Faz parte do meu Show, Faz parte do meu Show.... meu amor, meu amor...” – Viu? Saudosismo gostoso! Cazuza! Elis! Nora Ney (Ichi-consegui vê-la no Hotel nacional do Rio de Janeiro nos anos 80 em um show para turista) – Aqui vai um pedacinho de história, o resto está lá no Google.


Nora Ney era linda cantando:

A onda do bolero que invadiu o Brasil no final dos anos quarenta, acabou por influenciar o surgimento do fenômeno "samba-de-fossa" que marcou a década seguinte. Surgiriam, assim, dezenas de composições que contavam desenganos, solidão, amores infelizes, muitas delas tendo com cenário bares e boates.
Como figuras primordiais, responsáveis mesmo pela iniciação do movimento, podem ser apontadas o compositor Antônio Maria e a cantora Nora Ney. Dele são as melhores peças do gênero e dela as melhores interpretações, como acontece em "Ninguém Me Ama", paradigma do samba-de-fossa e sucesso nacional.Ninguém me ama (samba-canção, 1952) - Fernando Lobo e Antônio Maria--Ninguém me ama

Ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amorA vida passa e eu sem ninguémE quem me abraça não me quer bemVim pela noite tão longaDe fracasso em fracasso
E hoje descrente de tudoMe resta o cansaço
Cansaço da vida, cansaço de mimVelhice chegandoE eu chegando ao fim
Ninguém me ama, ninguém me quer . . .


“Ninguém me ama. Ninguém me quer. A vida passa....” – Todos aplaudiam a fossa da porra! Uns choravam, outros aplaudiam mais e mais... eu era um dos que aplaudia e muito. Era mais escandaloso do que sou nos dias de hoje. Vavabrasil sempre foi isto que vocês conseguem ver, perceber ao vivo ao através dos escritos.

Viu? Saudades bonitas! Temos que preservar isto dentro de nós.

As coisas ruíns? – Não devemos esquece-las ou teremos o disabor de repeti-las, como qualquer processo normal da vida.

Em fim, vou preparar um jantar agora, tomar um vinhozinho e ver “Happy Feet”. Amo pinguins! Creio que tenha sido um pinguim em uma outra encarnação, apesar de não gostar de frio. Fui piguim ou cachorro Labrador. Um ou outro!

Retorno em breve com a minha contagem dos dias em dirteção aos meus 50 anos.

Desde já sintam-se convidados a brindarem comigo os meu meio séculos de existência.


Sabem de uma coisa? Hoje eu poderia cantar assim:

Alguém me Ama
Alguém me quer
Alguém me chama de meu amor!
A vida passa e eu tenho alguém
E quem me abraça me quer bem
Venho pela noite tão longa
De sucesso em sucesso
E hoje crente de tudo
Me resta o descanço
Descanso da vida. Descanso de nós
Velhice chegando
E eu recomeçando tudo de novo
Alguém me ama, alguém me quer
Dedico essas palavras a pessoa que me faz dar sentido a vida, ao passar da vida.

A você e a mim! A nós!
Te amo, Te amo, Te amo!

Mídia no Universo Brasileiro


MÍDIA PERVERSA versus UNIVERSO HSH

BY: VAGNER DE ALMEIDA

Falar sobre mídia é muito polêmico, sobretudo porque, nos tempos atuais, esta, para o bem ou para o mal, permeia em certo sentido todos os processos sociais.

Diz o ditado popular; “Quem pode, pode e quem não pode se sacode!”.

Contemporaneamente, pode se dizer que raros são os que podem e muitos são os que não podem acompanhar o consumismo capitalista e tendencioso da mídia posta a serviço do marketing e da propaganda.

Mídia conforme Houaiss significa:Todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; meio de comunicação social de massas não diretamente interpessoais tais quais as conversas, diálogos públicos e privados. Abrange esses meios o rádio, o cinema, a televisão, a escrita impressa (manuscrito no passado), em livros, revistas, boletins, jornais, o computador, o videocassete ou videogame, os satélites de comunicação e, de um modo geral, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação em que incluem também as diversas telefonias...”.

Ainda conforme aquele dicionário, "Perversa" significa “Que revela perversão, que ou aquele que tem má índole, que tem a tendência de praticar crueldades, malvada, virando as avessas desordenando, feito em desacordo com as regras e os costumes, efetua alterações, desvirtua, põe às avessas, transforma, desordena, modifica, corrompe, vicia...”

Partindo desses dois significados é possível retomar o universo sócio-cultutal população que tem sido objeto de minhas atenções nos últimos tempos: homens que fazem sexo com outros homens de classes menos favorecidas da cidade do Rio de Janeiro.

Quinze anos se passaram desde que foi iniciado o Projeto de Prevenção do HIV/AIDS para homens que fazem sexo com homens (HSH) na ABIA. Durante todo esse tempo acompanho as mudanças nas “tendências”: da moda, da sexualidade, e dos HSH. Também da epidemia do HIV, que cresce e se formata de acordo com uma outra tendência, esta mundial: a pauperização.

“Cada vez mais percebemos o vínculo fundamental entre a desigualdade social e a vulnerabilidade diante a infecção pelo HIV. No Brasil, isto quer dizer que as populações mais vulneráveis à AIDS e a violência social do cotidiano brasileiro são justamente os mais excluídos, os mais oprimidos, os mais marginalizados...” ver (Richard Parker e Veriano Terto Jr em Entre Homens – Homossexualidade e AIDS no Brasil).

No projeto HSH nos deparamos com os enfentamentos que os homens com práticas homossexuais vivem dado as armadilhas de gênero, sexualidade, desigualdades sociais. Neste contexto, o fenômeno da globalização mudou o eixo da discussão. Se, por um lado, ela supostamente liberou o acesso à informação, por outro “fechou muitas portas” - por que os conglomerados multinacionais ficaram ainda mais poderosos.

Uso da mídia


Ao longo desses anos diferentes formas de mídia têm sido usadas no Projeto HSH para revelar e expressar a luta contra o HIV/AIDS, discriminação, estigma e desigualdade social. São boletins, jornais, livros, videosm folhetos e revistas. A ênfase do projeto, desde a sua criação é a possibilidade os desvelar do imaginário, dos sonhos e o desejo dos participantes das oficinas. Oferecer possibilidades dos homens assumirem a voz crítica de cidadão, se expressar em uma sociedade que o cala, o segrega e o estigmatiza. Ênfase que se expressa em cada uma das produções que realizamos.

Destacarei aqui dois conjutos de obras. Cabaret Prevenção começou a ser produzida em 1993 dentro da Oficina de Teatro Expressionista, sendo transformado, em peça de teatro, livro e vídeo. Dez anos depois foi produzido Ritos e Ditos de Jovens Gays. Advindo também das Oficinas, transformado em vídeo e livro. As mudanças no imaginário homossexual são visíveis nas produções.


A diferença entre Cabaret Prevenção e Ritos e Ditos de Jovens Gays são visíveis tanto pelo caminhar da história da epidemia do HIV/AIDS e da homofobia como também do movimento homossexual e de direitos humanos no Brasil. Ambas as produções usam a mídia digitalizada e escrita como veículos de denúncia, protesto, indignação e alerta.

Infelizmente, a mídia, como toda construção social, enquanto instrumento/veículo, assume os aspectos que os seus utilizadores lhe confere.


Nesse exato momento é visível a cantradição do uso da mídia em prol de causas sociais. Se por um lado vemos iniciativas (nas quais se inserem a nossa) de fomentar mudanças na visão de mundo hegemônica, rumoa uma sociedade mais equitativa e, do ponto de vista do HIV/AIDS, segura; por outro, muitas vezes em um memso veículo midiático um mundo de futilidades e exclusão é oferecido ao consumo.

Há duas passagens no documentário Ritos e Ditos de Jovens Gays, que podem ilustrar a última assertiva, fragmentos importantíssimos para prosseguir com os argumentos de como a mídia é também tendenciosa e causa efeitos extremamente danosos no imaginário social e, por conseguinte, os indivíduo.

Fragmento I

“Meu sonho é ser rica igual à Xuxa, fazer tudo o que eu quero... Eu já tenho saúde, tenho vários bofes, faço tudo o que quero, então, já tenho vários dos meus sonhos. Mas o meu sonho maior é ser rica, e um dia eu vou ser, com certeza!” (Marco Aurélio, Wolpy, Lacraya participante das oficinas de Teatro Expressionista, documentário Ritos e Ditos e hoje é um mito na mídia brasileira).

Fragmento II


“A minha primeira vez, a minha primeira transa com outro homem, aconteceu, foi muito engraçado do jeito que aconteceu. Eu tenho um amigo, que ele sempre dizia, já tinha conhecido esse rapaz pela Internet, então... sempre falava dele para mim, dizia que ele tinha sido ruim na transa, falava que ele era uma pessoa muito fria, fiquei assim, como que uma pessoa bonita, uma pessoa rica, uma pessoa bem tratada, uma pessoa que tinha um BMW branco, podia ser ruim na cama?...” (Anderson ex-evangélico, participante do Projeto Juventude e Diversidade Sexual, um dos participantes do documentário Ritos e Ditos).

Observar esses dois fragmentos podemos identificar um conjunto de palavras/imagens que são apropriadas pleos sujeitos através dos meios de comunicação de massa. Não quero neste momento me deter no gênero ou vontades sexuais expressos pelos dois atores sociais. Apenas reter a idéia de como a mídia está presente na vida de cada um deles.

A tevê exerce uma forte influência no imaginário do indivíduo, mas ela não é a única. É ruim quando a televisão exagera e ao invés de educar estimula a ansiedade do indivíduo.

A tevê que apresenta a novela, o programa de moda, policial, a prima dona nacional e internacional, a musa do verão e a milionária loira em um pais em que as pessoas ainda morrem de fome, cria uma situação complexa de exacerbação das situações tirando o parâmetro da realidade e conseqüentemente cria o contexto da realidade.

“Ser igual à Xuxa” e “ter tudo o que quiser”, são as imagens passadas pela mídia. Possuir um “BMW” é sinônimo de ser bom de cama ou bem dizendo “ser obrigado a ser bom de cama”. Todas essas fantasias são advindas de toneladas de informações recebidas diariamente pelos meios de comunicações tais quais televisão, internet, telefone celular, o qual passou a ser sinônimo de estatus entre as classes populares. Até então objeto de desejo só das classes dominantes. Hoje podemos observar o telefone celular nos locais mais remotos do Brasil, a guerra do marketing e estilo.

São esses argumentos, que a população assistida pelo Projeto HSH expõe nas oficinas e nas atividades desenvolvidas com o grupo. Questões relevantes as quais necessitam de ser observadas. Simples exemplos que precisam ser discutidos e avaliados, “Ser rica igual à Xuxa!” e “Como uma pessoa bonita, branca, com BMW poderia ser ruim na cama?”.

Observa-se a vulnerabilidade inserida neste assunto. A arapuca que a mídia oferece aos indivíduos. O indivíduo sabe expor sua vontade e desejo claramente. Há muitos protestos calados e desabafos verbalizados.

"Enquanto estivermos calados, permanecendo estagnados, nos omitindo sobre aquilo que realmente pensamos, nada vai mudar. É importante frisar que a população brasileira não está acostumada a questionar, a reivindicar, a exigir o que é melhor, necessário e primordial para a vida do cidadão. Nos gays, homossexuais e entendidos, que seja, nos acostumamos e achamos normal viver em uma sociedade que exclui constantemente todos que são considerados diferentes do perfil de beleza estabelecido por essa sociedade brasileira, excludente, escravocrata, misógina, machista, religiosa e tantos outros etcs.

Enfatizo por que reclamamos, especulamos, mas ainda permanecemos, aceitando o modelo perverso que a mídia se mantém, sufocando todos os ideais e anseios pelos quais vivemos e acreditamos, mas que ainda não sentimos a coragem de modificar. Temos enraizado uma estima que oscila, baseada no preconceito que ainda impera na mídia brasileira”. (participante da oficina Juventude e Diversidade Sexual)

No universo de muitos homossexuais que adotam o ser feminino para o seu cotidiano é visto que em meio a tantas tendências, uma que muito é discutida e enfatizada é a da moda, essa do indumentário, da maquiagem, da nova prótese, perfume, da coluna social do jornal diário, etc. Todos ou todas são Gisele B, Xuxa Menenghelli, Julie Roberts, Elizabeth Taylor, Madona, Vera Loyola, Odete Hoeltman e tantas outras figuras femininas poderosas. Nenhum deles identificam-se como Maria da Silva, Irene da Conceição, Raimunda Bernadet, pois esses personagens só são mostrados na mídia através das filas de hospitais, portas de presídio, catástrofes ecológicas nas favelas, alagados ou em filas da fome zero.

Comparando a população alcançada pelo Projeto HSH da ABIA e a chamada população GLS é observado uma especificidade bem diferente. Em um lado um grupo de pessoas com poder aquisitivo quase zero e do outro lado, bem paralelo, um grupo de consumidores com um poder de compra sonhado por muitos e alcançado por poucos.

“É impossível fechar os olhos diante de um nicho de mercado que começa a chamar a atenção da mídia e na mídia: o público GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Este público está definitivamente saindo do armário e formando um mercado a partir de uma das características psicográficas: o comportamento sexual”.“Ronald Assunpção em O Consumidor Saindo do Armário, O público Gay e a Mídia

A população que reside ou trabalhada na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro pode ser categorizada como GLS, mas sem o poder de consumo no Mercado Cor de Rosa dominante. Segundo Ronald Assunpção o movimento mercadológico para os GLS ainda é recente no Brasil e concentrado principalmente nas grandes cidades (São Paulo e Rio de Janeiro). Mas, já chama a atenção dos profissionais de comunicação e de mercado para as seguintes questões:

Como tratar e atingir esse público?

Quais as características que diferem os gays mercadologicamente?


Se observarmos que toda essa população que o projeto trabalha tem a informação, mas não tem o acesso, pois quando questionados sobre as tendências da moda são quase unânimes em citar revistas tais como a Vogue Magazine, Marie Claire, Claúdia e Harper Inglesa. Essas constroi G Magazine, Homens, OK, Um outro olhar, apesar de serem consideradas ainda como títulos pornográficos ex Sui Generis (totalmente dirigida para a camada GLS bem estabelecida no mercado de consumo) e tantas outras edições que revelam a preferência desse público ou bem dizendo do nicho que o mercado consumidor vem investindo. Este veículo de comunicação é o mesmo que corrompe, realiza modificações, altera comportamentos e atitudes dos indivíduos. Não importa que se esteja na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, Jardim Ângela na periferia de São Paulo, Maputo em Moçambique, Sidney na Austrália, Londres, Paris, Nova Iorque, pois a mídia é mesma neste mundo globalizado.

Como exemplo podemos ver a escola de luxo e beleza se repetindo nos mais audaciosos concursos de beleza gay do mundo. Interessante ressaltar que nesse exato momento, simplesmente é reproduzida a imagem que é exposta e imposta no regime capitalista, egoísta e adicionando também racista.

Trabalhando anos afio com população muito carente foi percebida a luta constante do imaginário de cada indivíduo, a angustia e a necessidade de se identificar com alguma marca famosa, não importa que seja no vestuário, no point noturno ou diurno, na bebida “Absynto ou a Vodca” da moda. Se observarmos que a cerveja ingerida tem que ser a que a propaganda vencedora na luta constante das companhias de cervejas mostradas nas telas de televisão, cinema, outdoors, revistas, jornais.

Pequenos detalhes que sendo visualizados a olho nu passam despercebidos, mas atento à observação verifica-se uma tremenda mudança social e comportamental proporcionada pela mídia. Tudo tem ser da moda e estar na moda e estes mudanças repentinas não chegam tão rapidamente financeiramente falando no universo do HSH da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro como tantos outros em todo Brasil.

Visivelmente no Rio de Janeiro é possível anotar os points da moda e das classes GLS dominantes. As praias da Zona sul, os discos elitizados, as saunas tanto de rapazes de programas como as só de relax, os restaurantes e pubs da zona sul. Neste exato momento a tendência da mídia da moda necessita ser seguida a qualquer preço criando assim uma suscetibilidade ao consumismo nos menos favorecidos. Cruzar a cidade geograficamente da Baixada Fluminense para a zona sul da cidade do Rio de Janeiro requer tempo e dinheiro. Comprovadamente a maioria não possui um poder de locomoção fácil e dispendioso.

Observando o embranquecimento da mídia, nos deparamos com o estigma tanto visual como verbal. Basta virar-se na esquina e lá estarão os outdoors estampados expondo seus néons repletos de personagens brancos vendendo ilusões a quém possui poder para aquisição, iludindo o imaginário da maioria dos não favorecidos com cartões de créditos, cheques e empregados.

“Como convencer alguém que nem tudo na vida é alcançável e muito menos no mundo em que vive a maioria dos brasileiros?” Não se convence e a vontade, o sonho e a decepção permanecem.

Convivendo, trabalhando com o gay pobre observa-se que Versati é mencionado como o ator da moda da novela da moda da Rede Globo, pois essa é a que mais transforma o imaginário brasileiro na transformaçõe do cotidiano desse povo.
A rede Globo vende o BMW branco, Skool neste verão e Brahma no próximo, colabora hoje com o político X e o derruba no dia seguinte, estabelece que a marca Y é a melhor e desconstroi por completo o que foi ontem construído pela marca B. Com tantas mudanças tendenciosas a população se torna “barata tonta”, despersonalizada, descompassada, informada de um lado e desinformada do outro.

A televisão mostra o céu e o inferno ao mesmo tempo e com isso cria o ser despersonalizado, sem idéias próprias, manipula e apaga, tal como o controle remoto que manipula os canais da televisão.

A televisão Vulnerabiliza, Informa, Constrói, Desconstroi? Possivelmente sim (ou não)! Mas certamente cria tendências às vezes positivas e muitas não. Basta observarmos como a homossexualidade é tratada pelo veículo de maior acesso no Brasil, que é a televisão. Estatisticamente para cada dez casas existem nove aparelhos de televisão. Diferente entre a televisão e outros meios de comunicação é que o acesso à televisão é menos caro do que outros meios. Por esse motivo neste exato momento o que é vendido na tv certamente o acesso é infinitamente maior (incluindo desigualdade social, racismo, fundamentalismo e tantas outras coisas).

No seriado da Globo “Meninos do Brasil” há um episódio que demonstra nitidamente o apatheid brasileiro na guerra de tráfico nos morros e nas favelas. Em uma das cenas é visivelmente observado o exercito de jovens encapuzadas, armados com suas R15, jovens não mais de 15 anos lutando em uma guerra territorial das drogas e usando as suas marcas da moda. Tragicamente observa-se um menino-soldado assassinado por uma bala no peito de uma escopeta do bando de oposição. Rapidamente ele é saqueado por um membro da mesma facção e seu tênis novo é arrancado de seus pés. Era um NIKE, pois essa é a marca que permeia o imaginário de consumo desses jovens. Está marca está bem patenteada entre os GLS, os gays pobres, as travestis esportivas e tantos outros sem acesso a NIKE ou REEBOK.

Do consumo a marginalidade


Para os GLS, as travestis as marcas da Yves Saint Laurent, Versace, Dolce Gabbana, Calvin Klein, Prada, Louis Voultton, Banana Republic, GAP, Nike, Hugo Boss, Giorgio Armani, Victoria Secret, Gucci e tantas outras etiquetas e pessoas das passarelas causam uma tragédia no homossexual pobre, jovem e excluído. Conseqüentemente para serem adquiridos esses produtos é relatado que há a necessidade de se inserirem em atividades tais como o tráfico de drogas, no trabalho de mula, avião e tantos outros nomes adicionados a esse vocabulário tão extenso do querer e não poder. A prostituição e atividades não muito dignas para o ser humano fazem parte das atividades dessa população. Ressaltando que todos são livre de praticarem qualquer atividade que lhe interesse e tenha vontade.
Se observarmos como os territórios se dividem podemos de imediato ver como a população HSH se divide, como as siglas se separam isto tanto no Rio de Janeiro, em outras partes do Brasil como também em outros países. No Rio de Janeiro é visível zona sul versus zona norte, Baixada e periferia, zona oeste.

A Mídia engrandece a zona sul em suas telenovelas, comercias de carros, bebidas e shoppings, enquanto a zona norte serve de cenário para os noticiários sensacionalistas da guerra civil silenciosa que mata mais do que qualquer outra guerra no Oriente Médio.

A televisão está lá dentro de cada casa, barraco ou boteco de becos e esquinas das favelas. O bonito está estampado e criando no imaginário de cada um sonho, um desejo de ser igual ou melhor do que aquele personagem bem sucedido na novela da moda ou no programa seu Talão Vale um Milhão.

O protótipo de beleza é massificado. Bonita é a palavra, uma expressão bem conhecida no vocabulário do HSH, das travestis e dos transexuais. Não há permissão para ser feio, e quem não se encaixar no padrão de beleza imposta pela mídia está fora, é cafona, é pobre, “bicha pão com ovo”. Por obrigação o indivíduo necessita ser fino, elegante e alvo, não branco, alvo! Palavra também para determinar estilo de beleza. Em revistas e desfiles do mundo fashion é observado todo esse estilo exposto, é evidente que é uma ordem, um dever ser bonita. Como diz o ditado popular entre a população HSH; “Ta bonita bicha? Caso não fora!”.

Discriminação parte de um olhar, um sorriso do lado da boca uma piada sem sabor de mel. Quem não viu ou proferiu uma piada a alguém que supostamente não fazia ou faz parte do seu circulo social?

No Rio de Janeiro está bem visível nas duas partes da cidade. Uma parte da cidade é antes do túnel, Barra, Leblon, Ipanema e Copacabana, esta já se encontra difamada pelas classes dominantes. A outra é depois do túnel onde o Projeto HSH da ABIA tenta democraticamente alcançar as camadas menos favorecidas, excluídas e discriminadas. Observando nesse universo HSH é importante realmente redesenhar constantemente a categoria de círculo social ou círculos sociais. Entre a zona sul e a zona norte existem semelhanças e diferenças gritantes. O mesmo Hit que toca nos discos da zona sul são tocados na zona norte. Em ambos os locais a moda chega através do rádio e da televisão. Na zona sul se concentra os ricos e turistas e na zona norte os pobres e os estranhos no ninho. Todos aparentemente se democratizam ouvindo e dançando o mesmo hit, mas não conseguem se sociabilizar economicamente. As diferenças são imensas e visíveis a olho nu.

Observando a Classe A, os ricos que formam a ala do HSH, esta pedaço da sociedade é realmente poderosa e conhecedora do mundo fashion, restaurantes da moda, compra BMW branco, viaja de primeira classe, quando não senta na classe executiva e dali não passa “nem mortas”, ou bem dizendo mortos.Classe econômica não existe para ele. Visita ou mora em Londres, Nova Iorque, Paris e faz jet set ao redor do mundo. Fala francês, inglês, italiano, japonês, sem mencionar nos cursos básicos no Japão para poder ser um exímio conhecer da culinária japonesa. Essa classe existe no Brasil e está estampada com a sua fotografia tirada de uma maquina digital nas revistas “Flash e Caras’, evidentemente que nunca aparecerá fazendo o social na “G Magazine”. Não é uma classe em extinção, e o Mercado Cor de Rosa é o seu favorito. Esta classe A é poderosa e os não favorecidos não existe para ele a não ser para servi-lo na hora que são solicitados.

A Classe B é a pior em se tratando de discriminar e estigmatizar os que menos possuem ou nada possuem. Nunca foi a Londres, Paris ou Nova Iorque, mas possui a pretensão dos que já foram e podem ir. Sabe até a letra de cor de “New York, New York” ou “La Vie En Rose”, mas nem se quer tenta cantar Aquarela do Brasil ou Tico-Tico no Fubá. Esta classe não possui limites e tudo que não seja rótulo caro não tem valor, inclusive o ser humano.

A Classe C, D e E é a população que o Projeto HSH e Juventude e Diversidade Sexual tenta alcançar na Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Essa população veste roupas da Rua da Alfândega do Centro da cidade do Rio ou tendências da moda com marcas famosas tais como Nike, Reebok, Louis Vultton, adquiridas em camelódromo da Central do Brasil ou nas feiras populares. Essa geração de jovem HSH não possui a pretensão da camada A e B, mas possui auto-estima abalada. Simplesmente tem um sonho, desejo e um imaginário de um dia chegar a ser respeitado e ter uma condição de vida melhor e digna. É importante observar a categoria de poder, o mais bem abastecido com o menos favorecido. Como as terminologias se modificam perante classes sociais. O mais bem abastecido é o que paga, compra, e conseqüentemente o menos favorecido passa a ter o nome de michê, usurpador, ta usando a cacura velha e rica, a bichinha pão com ovo se deu bem com a bicha velha, etc e tal. As terminologias usadas para se referir à Classe A e B são bacana, doutor, gente fina, tem berço, enquanto a classe C, D, E recebem título completamente contrários.

Exclusão Social ou Delírio Social?


Nas oficinas promovidas pela ABIA é percebido que os participantes, todos sem exceção levando em conta grau de escolaridade ou não podem mencionar no mínimo doze marcas famosas, não alcançáveis por eles monetariamente. As mais mencionadas foram Calvin Klein, Louis Vultton, Nike, Versace, Yves Saint Laurent, Dolce Gabbana, Fórum,...

Um fato que marcou muito em 2002 foi um jovem de 19 anos, convivendo com o HIV/AIDS, tem como parceiros fixo um traficante famoso da cidade do Rio de Janeiro. Em sua entrevista ele diz:
“Ele não haveria de morrer antes de comprar um vestido bem bonito na Sax Fith Avenue em Nova Iorque e fazer um show, neste caso uma dublagem, para as outras bichas pobres se cortarem de inveja dele.(jovem dublador de uma boate da Baixada Fluminense vive sobre a proteção de seu parceiro traficante em uma das tantas favelas da periferia, folheia as revistas da moda e a sua preferida é a Vogue).

“Concordo que a mídia de um modo geral faz com que nós nos sintamos humilhados diante de tantas novidades, novidade o qual percebemos que o nosso poder de aquisição é mínimo. São mostrados vários produtos, de várias marcas que podem ser famosos e muito atraentes. Quem mora na periferia e ler revista de moda, jornais, livros, etc mostram um conceito de vida, um estilo de vida que a maioria da população não tem como comprar. Penso que o ser humano em geral tem a possibilidade de mudar o seu modo de vida, estudando, trabalhando, sendo humilde sem deixar-se humilhar. ”. (participante da Oficina de Juventude e Diversidade Sexual da ABIA)

As disparidades do imaginário, essas são armas que constrói ou desconstroi toda uma edificação do jovem HSH, não importa quantas vezes ele retorne para casa via trem, van, ônibus, seu imaginário estará na mira das imagens absorvidas pela mídia perversa. Um exemplo a ser seguindo na época era a novela da Rede Globo intitulada “Celebridade”. A maioria de alguns meninos das oficinas já haviam se apoderado de alguns personagens poderosos, ricos e famosos e já se chamavam pelos nomes. Mesmo fenômeno ocorrido com a personagem Odete Holtman em “A Próxima Vítima”. Todos eram Odete Holtman e até a sua perversidade era aceitável por ser o protótipo de riqueza e poder.

O que fazer com uma população de jovens vulneráveis nesse mercado de vaidades e contradições?


Essa imagem de poder exposta diariamente no espaço GLS ou HSH compra craque, cocaína, cristais e todos outros apetrechos da moda. Tudo tem que estar empacotado para que o gay do mercado cor de rosa, forte, bonito, olhos azuis, louro, alto e não afeminado esteja inserido, aceito e vivendo o espetáculo ocasional do momento.

Partindo para o protótipo de beleza, esse realmente é perverso, pois é assim que a tendência da mídia, principalmente do mercado cor de rosa expõe seus produtos no mercado de vaidades. Requisitos importantes são necessários para o indivíduo ser aceito neste mercado tão competitivo e lucrativo. Inicialmente ser forte, musculoso, alvo, bem dotado, olhar fatal, deixando claro que os olhos necessitam ser azuis, não valem as lentes de contato baratas. Ser elegante e usar os terninhos da moda. Dentro de uma vasta lista de requisitos impostos pelo mundo fashion, caso o individuo não consiga se inserir em uma dessas modalidades, ele será imediatamente deletado do mundo que constrói o mundo esse espaço de sonhos e fantasias, as quais só se transformam de sapos para príncipes para uma camada muito pequena de pessoas.

Os afeminados como se referem os demais; “Não, não e não!”. Exemplo estampados nos anúncios de cuecas Calvin Clein, fenômeno criado pela mídia e difundida no mercado cor de rosa com uma separação de gênero masculino. Como diz o ditado popular “Ser viado sim, mas que seja macho”. É importante observar no mundo homossexual essas diferenças principalmente quando essa empada ou pão com ovo assim chamado o HSH menos favorecido vem recheado de pobreza. O mundo é dos fortes, brancos, musculosos, as Barbies tão difamadas por alguns e idolatradas por outros. Observando centenas de revistas de cultuação do corpo é evidente que 90% dos tipos, modelos são brancos e raramente encontram –se negros ou mulatos, só quando famosos ou ricos, bem tratados, massudos e como dizem os HSH tem que ter por obrigação a “neca grande”.

Este mesmo fenômeno é encontrado em série em boletins informativos de prevenção de HIV e AIDS no Brasil.

O homossexual feio, (me referi ao padrão de beleza imposto pelo sistema), pobre, mal nutrido, não vende no Mercado cor de Rosa e conseqüentemente é excluído do circuito dos favorecidos, os quais são os brancos e forte protótipo de macho e alazão, vitalidade e exuberância tal qual os ditados populares “Um colírio para os olhos! O genro que a minha mãe queria! Pedaço de mau caminho! Isto que é corpo o resto é Chupeta!”. Tanto lá quanto cá, a tendência do embranquecimento da mídia é o mesmo. Não importa que estejamos em Nova Iorque, com um das maiores etnias do mundo por metro quadrado. Se observarmos o mercado cor de rosa brasileiro, com uma mistura étnica fascinante encontraremos com raras exceções o negro estampado nas capas de revistas famosas, em personagens de destaques “ricos e famosos” em novelas da rede Globo ou qualquer outra emissora de televisão brasileira.

Somos vergonhosamente essa sociedade que indecentemente excluímos mesmo!


Há uma população extremamente vulnerável perante a mídia perversa. São pessoas que não alcançam, mesmo que queiram a corrida exposta sobre um consumo exacerbado. De forma direta ou indireta são indivíduos que querem reinvinvdicar uma vida melhor, aprender, ensinar, perceber que o mundo da exclusão deforma a personalidade desses personagens que tanto tem a oferecer em uma sociedade que só os subtrai.

No Rio de Janeiro, o Projeto da ABIA não está nas orlas marinhas tão endeusadas pela mídia e foram esses grupos de HSH pobres, lutadores, jovens, negros e brancos que fizeram repensar a existência desse mundo perverso, são grupos de pessoas, indivíduos que quando oportunidades têm, transforma o sistema sempre para melhor.

O Mercado Cor de Rosa atraente e perverso também, vulnerabiliza as pessoas. Cria dependência deixando o indivíduo frágil mediante tantas “opções” impostas pelo mercado de consumo. Fazendo com que os jovens vão a busca do perigo, do inexplorado, o diferente, o objeto de desejo que tanto sonha em conseguir. Uma simples marca de tênis, um celular que tira fotografias, uma camiseta maneira são o suficiente para inserir esse jovem no mundo da criminalidade.


Estatisticamente sabemos o fim de cada um desses jovens. Quando não mortos passam a conviver com o HIV/AIDS, pois facilmente abandonam o sexo seguro em troca de acesso a bens e serviços que lhes é negado dado as suas condições sociais, Como eles mesmo dizem, tudo é possível para se conseguir o rótulo, a marca, que estão exibidos nos outdoors das estradas e avenidas ou nos comerciais de televisão.