MÍDIA PERVERSA versus UNIVERSO HSH
BY: VAGNER DE ALMEIDA
Falar sobre mídia é muito polêmico, sobretudo porque, nos tempos atuais, esta, para o bem ou para o mal, permeia em certo sentido todos os processos sociais.
BY: VAGNER DE ALMEIDA
Falar sobre mídia é muito polêmico, sobretudo porque, nos tempos atuais, esta, para o bem ou para o mal, permeia em certo sentido todos os processos sociais.
Diz o ditado popular; “Quem pode, pode e quem não pode se sacode!”.
Contemporaneamente, pode se dizer que raros são os que podem e muitos são os que não podem acompanhar o consumismo capitalista e tendencioso da mídia posta a serviço do marketing e da propaganda.
Mídia conforme Houaiss significa: “Todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; meio de comunicação social de massas não diretamente interpessoais tais quais as conversas, diálogos públicos e privados. Abrange esses meios o rádio, o cinema, a televisão, a escrita impressa (manuscrito no passado), em livros, revistas, boletins, jornais, o computador, o videocassete ou videogame, os satélites de comunicação e, de um modo geral, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação em que incluem também as diversas telefonias...”.
Ainda conforme aquele dicionário, "Perversa" significa “Que revela perversão, que ou aquele que tem má índole, que tem a tendência de praticar crueldades, malvada, virando as avessas desordenando, feito em desacordo com as regras e os costumes, efetua alterações, desvirtua, põe às avessas, transforma, desordena, modifica, corrompe, vicia...”
Partindo desses dois significados é possível retomar o universo sócio-cultutal população que tem sido objeto de minhas atenções nos últimos tempos: homens que fazem sexo com outros homens de classes menos favorecidas da cidade do Rio de Janeiro.
Quinze anos se passaram desde que foi iniciado o Projeto de Prevenção do HIV/AIDS para homens que fazem sexo com homens (HSH) na ABIA. Durante todo esse tempo acompanho as mudanças nas “tendências”: da moda, da sexualidade, e dos HSH. Também da epidemia do HIV, que cresce e se formata de acordo com uma outra tendência, esta mundial: a pauperização.
“Cada vez mais percebemos o vínculo fundamental entre a desigualdade social e a vulnerabilidade diante a infecção pelo HIV. No Brasil, isto quer dizer que as populações mais vulneráveis à AIDS e a violência social do cotidiano brasileiro são justamente os mais excluídos, os mais oprimidos, os mais marginalizados...” ver (Richard Parker e Veriano Terto Jr em Entre Homens – Homossexualidade e AIDS no Brasil).
No projeto HSH nos deparamos com os enfentamentos que os homens com práticas homossexuais vivem dado as armadilhas de gênero, sexualidade, desigualdades sociais. Neste contexto, o fenômeno da globalização mudou o eixo da discussão. Se, por um lado, ela supostamente liberou o acesso à informação, por outro “fechou muitas portas” - por que os conglomerados multinacionais ficaram ainda mais poderosos.
Uso da mídia
Ao longo desses anos diferentes formas de mídia têm sido usadas no Projeto HSH para revelar e expressar a luta contra o HIV/AIDS, discriminação, estigma e desigualdade social. São boletins, jornais, livros, videosm folhetos e revistas. A ênfase do projeto, desde a sua criação é a possibilidade os desvelar do imaginário, dos sonhos e o desejo dos participantes das oficinas. Oferecer possibilidades dos homens assumirem a voz crítica de cidadão, se expressar em uma sociedade que o cala, o segrega e o estigmatiza. Ênfase que se expressa em cada uma das produções que realizamos.
Destacarei aqui dois conjutos de obras. Cabaret Prevenção começou a ser produzida em 1993 dentro da Oficina de Teatro Expressionista, sendo transformado, em peça de teatro, livro e vídeo. Dez anos depois foi produzido Ritos e Ditos de Jovens Gays. Advindo também das Oficinas, transformado em vídeo e livro. As mudanças no imaginário homossexual são visíveis nas produções.
A diferença entre Cabaret Prevenção e Ritos e Ditos de Jovens Gays são visíveis tanto pelo caminhar da história da epidemia do HIV/AIDS e da homofobia como também do movimento homossexual e de direitos humanos no Brasil. Ambas as produções usam a mídia digitalizada e escrita como veículos de denúncia, protesto, indignação e alerta.
Infelizmente, a mídia, como toda construção social, enquanto instrumento/veículo, assume os aspectos que os seus utilizadores lhe confere.
Nesse exato momento é visível a cantradição do uso da mídia em prol de causas sociais. Se por um lado vemos iniciativas (nas quais se inserem a nossa) de fomentar mudanças na visão de mundo hegemônica, rumoa uma sociedade mais equitativa e, do ponto de vista do HIV/AIDS, segura; por outro, muitas vezes em um memso veículo midiático um mundo de futilidades e exclusão é oferecido ao consumo.
Há duas passagens no documentário Ritos e Ditos de Jovens Gays, que podem ilustrar a última assertiva, fragmentos importantíssimos para prosseguir com os argumentos de como a mídia é também tendenciosa e causa efeitos extremamente danosos no imaginário social e, por conseguinte, os indivíduo.
Fragmento I
“Meu sonho é ser rica igual à Xuxa, fazer tudo o que eu quero... Eu já tenho saúde, tenho vários bofes, faço tudo o que quero, então, já tenho vários dos meus sonhos. Mas o meu sonho maior é ser rica, e um dia eu vou ser, com certeza!” (Marco Aurélio, Wolpy, Lacraya participante das oficinas de Teatro Expressionista, documentário Ritos e Ditos e hoje é um mito na mídia brasileira).
Fragmento II
Fragmento I
“Meu sonho é ser rica igual à Xuxa, fazer tudo o que eu quero... Eu já tenho saúde, tenho vários bofes, faço tudo o que quero, então, já tenho vários dos meus sonhos. Mas o meu sonho maior é ser rica, e um dia eu vou ser, com certeza!” (Marco Aurélio, Wolpy, Lacraya participante das oficinas de Teatro Expressionista, documentário Ritos e Ditos e hoje é um mito na mídia brasileira).
Fragmento II
“A minha primeira vez, a minha primeira transa com outro homem, aconteceu, foi muito engraçado do jeito que aconteceu. Eu tenho um amigo, que ele sempre dizia, já tinha conhecido esse rapaz pela Internet, então... sempre falava dele para mim, dizia que ele tinha sido ruim na transa, falava que ele era uma pessoa muito fria, fiquei assim, como que uma pessoa bonita, uma pessoa rica, uma pessoa bem tratada, uma pessoa que tinha um BMW branco, podia ser ruim na cama?...” (Anderson ex-evangélico, participante do Projeto Juventude e Diversidade Sexual, um dos participantes do documentário Ritos e Ditos).
Observar esses dois fragmentos podemos identificar um conjunto de palavras/imagens que são apropriadas pleos sujeitos através dos meios de comunicação de massa. Não quero neste momento me deter no gênero ou vontades sexuais expressos pelos dois atores sociais. Apenas reter a idéia de como a mídia está presente na vida de cada um deles.
A tevê exerce uma forte influência no imaginário do indivíduo, mas ela não é a única. É ruim quando a televisão exagera e ao invés de educar estimula a ansiedade do indivíduo.
A tevê que apresenta a novela, o programa de moda, policial, a prima dona nacional e internacional, a musa do verão e a milionária loira em um pais em que as pessoas ainda morrem de fome, cria uma situação complexa de exacerbação das situações tirando o parâmetro da realidade e conseqüentemente cria o contexto da realidade.
“Ser igual à Xuxa” e “ter tudo o que quiser”, são as imagens passadas pela mídia. Possuir um “BMW” é sinônimo de ser bom de cama ou bem dizendo “ser obrigado a ser bom de cama”. Todas essas fantasias são advindas de toneladas de informações recebidas diariamente pelos meios de comunicações tais quais televisão, internet, telefone celular, o qual passou a ser sinônimo de estatus entre as classes populares. Até então objeto de desejo só das classes dominantes. Hoje podemos observar o telefone celular nos locais mais remotos do Brasil, a guerra do marketing e estilo.
São esses argumentos, que a população assistida pelo Projeto HSH expõe nas oficinas e nas atividades desenvolvidas com o grupo. Questões relevantes as quais necessitam de ser observadas. Simples exemplos que precisam ser discutidos e avaliados, “Ser rica igual à Xuxa!” e “Como uma pessoa bonita, branca, com BMW poderia ser ruim na cama?”.
Observa-se a vulnerabilidade inserida neste assunto. A arapuca que a mídia oferece aos indivíduos. O indivíduo sabe expor sua vontade e desejo claramente. Há muitos protestos calados e desabafos verbalizados.
"Enquanto estivermos calados, permanecendo estagnados, nos omitindo sobre aquilo que realmente pensamos, nada vai mudar. É importante frisar que a população brasileira não está acostumada a questionar, a reivindicar, a exigir o que é melhor, necessário e primordial para a vida do cidadão. Nos gays, homossexuais e entendidos, que seja, nos acostumamos e achamos normal viver em uma sociedade que exclui constantemente todos que são considerados diferentes do perfil de beleza estabelecido por essa sociedade brasileira, excludente, escravocrata, misógina, machista, religiosa e tantos outros etcs.
Enfatizo por que reclamamos, especulamos, mas ainda permanecemos, aceitando o modelo perverso que a mídia se mantém, sufocando todos os ideais e anseios pelos quais vivemos e acreditamos, mas que ainda não sentimos a coragem de modificar. Temos enraizado uma estima que oscila, baseada no preconceito que ainda impera na mídia brasileira”. (participante da oficina Juventude e Diversidade Sexual)
No universo de muitos homossexuais que adotam o ser feminino para o seu cotidiano é visto que em meio a tantas tendências, uma que muito é discutida e enfatizada é a da moda, essa do indumentário, da maquiagem, da nova prótese, perfume, da coluna social do jornal diário, etc. Todos ou todas são Gisele B, Xuxa Menenghelli, Julie Roberts, Elizabeth Taylor, Madona, Vera Loyola, Odete Hoeltman e tantas outras figuras femininas poderosas. Nenhum deles identificam-se como Maria da Silva, Irene da Conceição, Raimunda Bernadet, pois esses personagens só são mostrados na mídia através das filas de hospitais, portas de presídio, catástrofes ecológicas nas favelas, alagados ou em filas da fome zero.
No universo de muitos homossexuais que adotam o ser feminino para o seu cotidiano é visto que em meio a tantas tendências, uma que muito é discutida e enfatizada é a da moda, essa do indumentário, da maquiagem, da nova prótese, perfume, da coluna social do jornal diário, etc. Todos ou todas são Gisele B, Xuxa Menenghelli, Julie Roberts, Elizabeth Taylor, Madona, Vera Loyola, Odete Hoeltman e tantas outras figuras femininas poderosas. Nenhum deles identificam-se como Maria da Silva, Irene da Conceição, Raimunda Bernadet, pois esses personagens só são mostrados na mídia através das filas de hospitais, portas de presídio, catástrofes ecológicas nas favelas, alagados ou em filas da fome zero.
Comparando a população alcançada pelo Projeto HSH da ABIA e a chamada população GLS é observado uma especificidade bem diferente. Em um lado um grupo de pessoas com poder aquisitivo quase zero e do outro lado, bem paralelo, um grupo de consumidores com um poder de compra sonhado por muitos e alcançado por poucos.
“É impossível fechar os olhos diante de um nicho de mercado que começa a chamar a atenção da mídia e na mídia: o público GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Este público está definitivamente saindo do armário e formando um mercado a partir de uma das características psicográficas: o comportamento sexual”.“Ronald Assunpção em O Consumidor Saindo do Armário, O público Gay e a Mídia”
A população que reside ou trabalhada na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro pode ser categorizada como GLS, mas sem o poder de consumo no Mercado Cor de Rosa dominante. Segundo Ronald Assunpção o movimento mercadológico para os GLS ainda é recente no Brasil e concentrado principalmente nas grandes cidades (São Paulo e Rio de Janeiro). Mas, já chama a atenção dos profissionais de comunicação e de mercado para as seguintes questões:
Como tratar e atingir esse público?
Quais as características que diferem os gays mercadologicamente?
Se observarmos que toda essa população que o projeto trabalha tem a informação, mas não tem o acesso, pois quando questionados sobre as tendências da moda são quase unânimes em citar revistas tais como a Vogue Magazine, Marie Claire, Claúdia e Harper Inglesa. Essas constroi G Magazine, Homens, OK, Um outro olhar, apesar de serem consideradas ainda como títulos pornográficos ex Sui Generis (totalmente dirigida para a camada GLS bem estabelecida no mercado de consumo) e tantas outras edições que revelam a preferência desse público ou bem dizendo do nicho que o mercado consumidor vem investindo. Este veículo de comunicação é o mesmo que corrompe, realiza modificações, altera comportamentos e atitudes dos indivíduos. Não importa que se esteja na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, Jardim Ângela na periferia de São Paulo, Maputo em Moçambique, Sidney na Austrália, Londres, Paris, Nova Iorque, pois a mídia é mesma neste mundo globalizado.
Como exemplo podemos ver a escola de luxo e beleza se repetindo nos mais audaciosos concursos de beleza gay do mundo. Interessante ressaltar que nesse exato momento, simplesmente é reproduzida a imagem que é exposta e imposta no regime capitalista, egoísta e adicionando também racista.
Trabalhando anos afio com população muito carente foi percebida a luta constante do imaginário de cada indivíduo, a angustia e a necessidade de se identificar com alguma marca famosa, não importa que seja no vestuário, no point noturno ou diurno, na bebida “Absynto ou a Vodca” da moda. Se observarmos que a cerveja ingerida tem que ser a que a propaganda vencedora na luta constante das companhias de cervejas mostradas nas telas de televisão, cinema, outdoors, revistas, jornais.
Pequenos detalhes que sendo visualizados a olho nu passam despercebidos, mas atento à observação verifica-se uma tremenda mudança social e comportamental proporcionada pela mídia. Tudo tem ser da moda e estar na moda e estes mudanças repentinas não chegam tão rapidamente financeiramente falando no universo do HSH da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro como tantos outros em todo Brasil.
Visivelmente no Rio de Janeiro é possível anotar os points da moda e das classes GLS dominantes. As praias da Zona sul, os discos elitizados, as saunas tanto de rapazes de programas como as só de relax, os restaurantes e pubs da zona sul. Neste exato momento a tendência da mídia da moda necessita ser seguida a qualquer preço criando assim uma suscetibilidade ao consumismo nos menos favorecidos. Cruzar a cidade geograficamente da Baixada Fluminense para a zona sul da cidade do Rio de Janeiro requer tempo e dinheiro. Comprovadamente a maioria não possui um poder de locomoção fácil e dispendioso.
Observando o embranquecimento da mídia, nos deparamos com o estigma tanto visual como verbal. Basta virar-se na esquina e lá estarão os outdoors estampados expondo seus néons repletos de personagens brancos vendendo ilusões a quém possui poder para aquisição, iludindo o imaginário da maioria dos não favorecidos com cartões de créditos, cheques e empregados.
“Como convencer alguém que nem tudo na vida é alcançável e muito menos no mundo em que vive a maioria dos brasileiros?” Não se convence e a vontade, o sonho e a decepção permanecem.
Convivendo, trabalhando com o gay pobre observa-se que Versati é mencionado como o ator da moda da novela da moda da Rede Globo, pois essa é a que mais transforma o imaginário brasileiro na transformaçõe do cotidiano desse povo.
A rede Globo vende o BMW branco, Skool neste verão e Brahma no próximo, colabora hoje com o político X e o derruba no dia seguinte, estabelece que a marca Y é a melhor e desconstroi por completo o que foi ontem construído pela marca B. Com tantas mudanças tendenciosas a população se torna “barata tonta”, despersonalizada, descompassada, informada de um lado e desinformada do outro.
A rede Globo vende o BMW branco, Skool neste verão e Brahma no próximo, colabora hoje com o político X e o derruba no dia seguinte, estabelece que a marca Y é a melhor e desconstroi por completo o que foi ontem construído pela marca B. Com tantas mudanças tendenciosas a população se torna “barata tonta”, despersonalizada, descompassada, informada de um lado e desinformada do outro.
A televisão mostra o céu e o inferno ao mesmo tempo e com isso cria o ser despersonalizado, sem idéias próprias, manipula e apaga, tal como o controle remoto que manipula os canais da televisão.
A televisão Vulnerabiliza, Informa, Constrói, Desconstroi? Possivelmente sim (ou não)! Mas certamente cria tendências às vezes positivas e muitas não. Basta observarmos como a homossexualidade é tratada pelo veículo de maior acesso no Brasil, que é a televisão. Estatisticamente para cada dez casas existem nove aparelhos de televisão. Diferente entre a televisão e outros meios de comunicação é que o acesso à televisão é menos caro do que outros meios. Por esse motivo neste exato momento o que é vendido na tv certamente o acesso é infinitamente maior (incluindo desigualdade social, racismo, fundamentalismo e tantas outras coisas).
No seriado da Globo “Meninos do Brasil” há um episódio que demonstra nitidamente o apatheid brasileiro na guerra de tráfico nos morros e nas favelas. Em uma das cenas é visivelmente observado o exercito de jovens encapuzadas, armados com suas R15, jovens não mais de 15 anos lutando em uma guerra territorial das drogas e usando as suas marcas da moda. Tragicamente observa-se um menino-soldado assassinado por uma bala no peito de uma escopeta do bando de oposição. Rapidamente ele é saqueado por um membro da mesma facção e seu tênis novo é arrancado de seus pés. Era um NIKE, pois essa é a marca que permeia o imaginário de consumo desses jovens. Está marca está bem patenteada entre os GLS, os gays pobres, as travestis esportivas e tantos outros sem acesso a NIKE ou REEBOK.
Do consumo a marginalidade
Do consumo a marginalidade
Para os GLS, as travestis as marcas da Yves Saint Laurent, Versace, Dolce Gabbana, Calvin Klein, Prada, Louis Voultton, Banana Republic, GAP, Nike, Hugo Boss, Giorgio Armani, Victoria Secret, Gucci e tantas outras etiquetas e pessoas das passarelas causam uma tragédia no homossexual pobre, jovem e excluído. Conseqüentemente para serem adquiridos esses produtos é relatado que há a necessidade de se inserirem em atividades tais como o tráfico de drogas, no trabalho de mula, avião e tantos outros nomes adicionados a esse vocabulário tão extenso do querer e não poder. A prostituição e atividades não muito dignas para o ser humano fazem parte das atividades dessa população. Ressaltando que todos são livre de praticarem qualquer atividade que lhe interesse e tenha vontade.
Se observarmos como os territórios se dividem podemos de imediato ver como a população HSH se divide, como as siglas se separam isto tanto no Rio de Janeiro, em outras partes do Brasil como também em outros países. No Rio de Janeiro é visível zona sul versus zona norte, Baixada e periferia, zona oeste.
A Mídia engrandece a zona sul em suas telenovelas, comercias de carros, bebidas e shoppings, enquanto a zona norte serve de cenário para os noticiários sensacionalistas da guerra civil silenciosa que mata mais do que qualquer outra guerra no Oriente Médio.
A televisão está lá dentro de cada casa, barraco ou boteco de becos e esquinas das favelas. O bonito está estampado e criando no imaginário de cada um sonho, um desejo de ser igual ou melhor do que aquele personagem bem sucedido na novela da moda ou no programa seu Talão Vale um Milhão.
O protótipo de beleza é massificado. Bonita é a palavra, uma expressão bem conhecida no vocabulário do HSH, das travestis e dos transexuais. Não há permissão para ser feio, e quem não se encaixar no padrão de beleza imposta pela mídia está fora, é cafona, é pobre, “bicha pão com ovo”. Por obrigação o indivíduo necessita ser fino, elegante e alvo, não branco, alvo! Palavra também para determinar estilo de beleza. Em revistas e desfiles do mundo fashion é observado todo esse estilo exposto, é evidente que é uma ordem, um dever ser bonita. Como diz o ditado popular entre a população HSH; “Ta bonita bicha? Caso não fora!”.
Discriminação parte de um olhar, um sorriso do lado da boca uma piada sem sabor de mel. Quem não viu ou proferiu uma piada a alguém que supostamente não fazia ou faz parte do seu circulo social?
No Rio de Janeiro está bem visível nas duas partes da cidade. Uma parte da cidade é antes do túnel, Barra, Leblon, Ipanema e Copacabana, esta já se encontra difamada pelas classes dominantes. A outra é depois do túnel onde o Projeto HSH da ABIA tenta democraticamente alcançar as camadas menos favorecidas, excluídas e discriminadas. Observando nesse universo HSH é importante realmente redesenhar constantemente a categoria de círculo social ou círculos sociais. Entre a zona sul e a zona norte existem semelhanças e diferenças gritantes. O mesmo Hit que toca nos discos da zona sul são tocados na zona norte. Em ambos os locais a moda chega através do rádio e da televisão. Na zona sul se concentra os ricos e turistas e na zona norte os pobres e os estranhos no ninho. Todos aparentemente se democratizam ouvindo e dançando o mesmo hit, mas não conseguem se sociabilizar economicamente. As diferenças são imensas e visíveis a olho nu.
Observando a Classe A, os ricos que formam a ala do HSH, esta pedaço da sociedade é realmente poderosa e conhecedora do mundo fashion, restaurantes da moda, compra BMW branco, viaja de primeira classe, quando não senta na classe executiva e dali não passa “nem mortas”, ou bem dizendo mortos.Classe econômica não existe para ele. Visita ou mora em Londres, Nova Iorque, Paris e faz jet set ao redor do mundo. Fala francês, inglês, italiano, japonês, sem mencionar nos cursos básicos no Japão para poder ser um exímio conhecer da culinária japonesa. Essa classe existe no Brasil e está estampada com a sua fotografia tirada de uma maquina digital nas revistas “Flash e Caras’, evidentemente que nunca aparecerá fazendo o social na “G Magazine”. Não é uma classe em extinção, e o Mercado Cor de Rosa é o seu favorito. Esta classe A é poderosa e os não favorecidos não existe para ele a não ser para servi-lo na hora que são solicitados.
A Classe B é a pior em se tratando de discriminar e estigmatizar os que menos possuem ou nada possuem. Nunca foi a Londres, Paris ou Nova Iorque, mas possui a pretensão dos que já foram e podem ir. Sabe até a letra de cor de “New York, New York” ou “La Vie En Rose”, mas nem se quer tenta cantar Aquarela do Brasil ou Tico-Tico no Fubá. Esta classe não possui limites e tudo que não seja rótulo caro não tem valor, inclusive o ser humano.
A Classe C, D e E é a população que o Projeto HSH e Juventude e Diversidade Sexual tenta alcançar na Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Essa população veste roupas da Rua da Alfândega do Centro da cidade do Rio ou tendências da moda com marcas famosas tais como Nike, Reebok, Louis Vultton, adquiridas em camelódromo da Central do Brasil ou nas feiras populares. Essa geração de jovem HSH não possui a pretensão da camada A e B, mas possui auto-estima abalada. Simplesmente tem um sonho, desejo e um imaginário de um dia chegar a ser respeitado e ter uma condição de vida melhor e digna. É importante observar a categoria de poder, o mais bem abastecido com o menos favorecido. Como as terminologias se modificam perante classes sociais. O mais bem abastecido é o que paga, compra, e conseqüentemente o menos favorecido passa a ter o nome de michê, usurpador, ta usando a cacura velha e rica, a bichinha pão com ovo se deu bem com a bicha velha, etc e tal. As terminologias usadas para se referir à Classe A e B são bacana, doutor, gente fina, tem berço, enquanto a classe C, D, E recebem título completamente contrários.
Exclusão Social ou Delírio Social?
Nas oficinas promovidas pela ABIA é percebido que os participantes, todos sem exceção levando em conta grau de escolaridade ou não podem mencionar no mínimo doze marcas famosas, não alcançáveis por eles monetariamente. As mais mencionadas foram Calvin Klein, Louis Vultton, Nike, Versace, Yves Saint Laurent, Dolce Gabbana, Fórum,...
Um fato que marcou muito em 2002 foi um jovem de 19 anos, convivendo com o HIV/AIDS, tem como parceiros fixo um traficante famoso da cidade do Rio de Janeiro. Em sua entrevista ele diz:
“Ele não haveria de morrer antes de comprar um vestido bem bonito na Sax Fith Avenue em Nova Iorque e fazer um show, neste caso uma dublagem, para as outras bichas pobres se cortarem de inveja dele”.(jovem dublador de uma boate da Baixada Fluminense vive sobre a proteção de seu parceiro traficante em uma das tantas favelas da periferia, folheia as revistas da moda e a sua preferida é a Vogue).
“Concordo que a mídia de um modo geral faz com que nós nos sintamos humilhados diante de tantas novidades, novidade o qual percebemos que o nosso poder de aquisição é mínimo. São mostrados vários produtos, de várias marcas que podem ser famosos e muito atraentes. Quem mora na periferia e ler revista de moda, jornais, livros, etc mostram um conceito de vida, um estilo de vida que a maioria da população não tem como comprar. Penso que o ser humano em geral tem a possibilidade de mudar o seu modo de vida, estudando, trabalhando, sendo humilde sem deixar-se humilhar. ”. (participante da Oficina de Juventude e Diversidade Sexual da ABIA)
As disparidades do imaginário, essas são armas que constrói ou desconstroi toda uma edificação do jovem HSH, não importa quantas vezes ele retorne para casa via trem, van, ônibus, seu imaginário estará na mira das imagens absorvidas pela mídia perversa. Um exemplo a ser seguindo na época era a novela da Rede Globo intitulada “Celebridade”. A maioria de alguns meninos das oficinas já haviam se apoderado de alguns personagens poderosos, ricos e famosos e já se chamavam pelos nomes. Mesmo fenômeno ocorrido com a personagem Odete Holtman em “A Próxima Vítima”. Todos eram Odete Holtman e até a sua perversidade era aceitável por ser o protótipo de riqueza e poder.
“Ele não haveria de morrer antes de comprar um vestido bem bonito na Sax Fith Avenue em Nova Iorque e fazer um show, neste caso uma dublagem, para as outras bichas pobres se cortarem de inveja dele”.(jovem dublador de uma boate da Baixada Fluminense vive sobre a proteção de seu parceiro traficante em uma das tantas favelas da periferia, folheia as revistas da moda e a sua preferida é a Vogue).
“Concordo que a mídia de um modo geral faz com que nós nos sintamos humilhados diante de tantas novidades, novidade o qual percebemos que o nosso poder de aquisição é mínimo. São mostrados vários produtos, de várias marcas que podem ser famosos e muito atraentes. Quem mora na periferia e ler revista de moda, jornais, livros, etc mostram um conceito de vida, um estilo de vida que a maioria da população não tem como comprar. Penso que o ser humano em geral tem a possibilidade de mudar o seu modo de vida, estudando, trabalhando, sendo humilde sem deixar-se humilhar. ”. (participante da Oficina de Juventude e Diversidade Sexual da ABIA)
As disparidades do imaginário, essas são armas que constrói ou desconstroi toda uma edificação do jovem HSH, não importa quantas vezes ele retorne para casa via trem, van, ônibus, seu imaginário estará na mira das imagens absorvidas pela mídia perversa. Um exemplo a ser seguindo na época era a novela da Rede Globo intitulada “Celebridade”. A maioria de alguns meninos das oficinas já haviam se apoderado de alguns personagens poderosos, ricos e famosos e já se chamavam pelos nomes. Mesmo fenômeno ocorrido com a personagem Odete Holtman em “A Próxima Vítima”. Todos eram Odete Holtman e até a sua perversidade era aceitável por ser o protótipo de riqueza e poder.
O que fazer com uma população de jovens vulneráveis nesse mercado de vaidades e contradições?
Essa imagem de poder exposta diariamente no espaço GLS ou HSH compra craque, cocaína, cristais e todos outros apetrechos da moda. Tudo tem que estar empacotado para que o gay do mercado cor de rosa, forte, bonito, olhos azuis, louro, alto e não afeminado esteja inserido, aceito e vivendo o espetáculo ocasional do momento.
Partindo para o protótipo de beleza, esse realmente é perverso, pois é assim que a tendência da mídia, principalmente do mercado cor de rosa expõe seus produtos no mercado de vaidades. Requisitos importantes são necessários para o indivíduo ser aceito neste mercado tão competitivo e lucrativo. Inicialmente ser forte, musculoso, alvo, bem dotado, olhar fatal, deixando claro que os olhos necessitam ser azuis, não valem as lentes de contato baratas. Ser elegante e usar os terninhos da moda. Dentro de uma vasta lista de requisitos impostos pelo mundo fashion, caso o individuo não consiga se inserir em uma dessas modalidades, ele será imediatamente deletado do mundo que constrói o mundo esse espaço de sonhos e fantasias, as quais só se transformam de sapos para príncipes para uma camada muito pequena de pessoas.
Os afeminados como se referem os demais; “Não, não e não!”. Exemplo estampados nos anúncios de cuecas Calvin Clein, fenômeno criado pela mídia e difundida no mercado cor de rosa com uma separação de gênero masculino. Como diz o ditado popular “Ser viado sim, mas que seja macho”. É importante observar no mundo homossexual essas diferenças principalmente quando essa empada ou pão com ovo assim chamado o HSH menos favorecido vem recheado de pobreza. O mundo é dos fortes, brancos, musculosos, as Barbies tão difamadas por alguns e idolatradas por outros. Observando centenas de revistas de cultuação do corpo é evidente que 90% dos tipos, modelos são brancos e raramente encontram –se negros ou mulatos, só quando famosos ou ricos, bem tratados, massudos e como dizem os HSH tem que ter por obrigação a “neca grande”.
Este mesmo fenômeno é encontrado em série em boletins informativos de prevenção de HIV e AIDS no Brasil.
O homossexual feio, (me referi ao padrão de beleza imposto pelo sistema), pobre, mal nutrido, não vende no Mercado cor de Rosa e conseqüentemente é excluído do circuito dos favorecidos, os quais são os brancos e forte protótipo de macho e alazão, vitalidade e exuberância tal qual os ditados populares “Um colírio para os olhos! O genro que a minha mãe queria! Pedaço de mau caminho! Isto que é corpo o resto é Chupeta!”. Tanto lá quanto cá, a tendência do embranquecimento da mídia é o mesmo. Não importa que estejamos em Nova Iorque, com um das maiores etnias do mundo por metro quadrado. Se observarmos o mercado cor de rosa brasileiro, com uma mistura étnica fascinante encontraremos com raras exceções o negro estampado nas capas de revistas famosas, em personagens de destaques “ricos e famosos” em novelas da rede Globo ou qualquer outra emissora de televisão brasileira.
Somos vergonhosamente essa sociedade que indecentemente excluímos mesmo!
Há uma população extremamente vulnerável perante a mídia perversa. São pessoas que não alcançam, mesmo que queiram a corrida exposta sobre um consumo exacerbado. De forma direta ou indireta são indivíduos que querem reinvinvdicar uma vida melhor, aprender, ensinar, perceber que o mundo da exclusão deforma a personalidade desses personagens que tanto tem a oferecer em uma sociedade que só os subtrai.
No Rio de Janeiro, o Projeto da ABIA não está nas orlas marinhas tão endeusadas pela mídia e foram esses grupos de HSH pobres, lutadores, jovens, negros e brancos que fizeram repensar a existência desse mundo perverso, são grupos de pessoas, indivíduos que quando oportunidades têm, transforma o sistema sempre para melhor.
O Mercado Cor de Rosa atraente e perverso também, vulnerabiliza as pessoas. Cria dependência deixando o indivíduo frágil mediante tantas “opções” impostas pelo mercado de consumo. Fazendo com que os jovens vão a busca do perigo, do inexplorado, o diferente, o objeto de desejo que tanto sonha em conseguir. Uma simples marca de tênis, um celular que tira fotografias, uma camiseta maneira são o suficiente para inserir esse jovem no mundo da criminalidade.
Estatisticamente sabemos o fim de cada um desses jovens. Quando não mortos passam a conviver com o HIV/AIDS, pois facilmente abandonam o sexo seguro em troca de acesso a bens e serviços que lhes é negado dado as suas condições sociais, Como eles mesmo dizem, tudo é possível para se conseguir o rótulo, a marca, que estão exibidos nos outdoors das estradas e avenidas ou nos comerciais de televisão.
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